Yanomamis: fome e vergonha

Os yanomamis sempre foram independentes, não precisavam de migalhas dos povos urbanos. Mas de olho em suas terras, nos minerais escondidos sob o solo, nas madeiras e fauna, os invasores que se sentiram protegidos pelo afrouxamento das leis ambientais, levaram à destruição seus territórios. Assim, escancarou-se para o mundo o que virou o que resta de nossas florestas e seus povos originários, nos últimos anos: terra de ninguém.

Por AIDA FRANCO LIMA | OPINIÃO

Quem viu e não se comoveu com as imagens dos yanomamis esqueléticos, desnutridos, morrendo de fome, divulgadas no último final de semana? Se alguém viu e normalizou, buscando uma justificativa, podemos dizer que são no mínimo desnutridos de empatia.

Não é de hoje que a ganância do homem civilizado coloca em risco a vida de povos que viveram isolados por gerações, tirando seu sustento da floresta, sem necessitar de esmolas do homem branco. Me lembro de uma historia que um conhecido me contou. Citou a morte de um pioneiro do Noroeste do Paraná e lamentei. Então ele explicou que nem estava tão comovido, pois no passado o salário do falecido era recebido de acordo com a quantidades de pares de orelhas de indígenas que ocupavam a região, que estava sendo desbravada.

Hoje soa inaceitável o extermínio de indígenas decepando suas orelhas. Mas, parece mais palatável que todos os seus corpos sejam dilacerados, ao padecerem de fome e doenças, presenteadas pelos homens da cidade. Derrubam as florestas, contaminam os rios, envenenam os solos, exterminam os animais, poluem o ar, tiram a fonte de sustento dos povos da floresta. E quando as imagens circulam o mundo, há quem diga que é mentira.

Tem um trecho de uma letra da banda Legião Urbana, que lá no final dos anos 80, denunciava o modo como os nossos índios vinham sendo aniquilados, com a música chamada Índios. Tem quem não goste da banda, quem não goste também de índio, e há quem não quisesse delimitar um centímetro sequer de terras a eles.

Quem me dera, ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado por ser inocente

Os yanomamis viveram muito bem por muito tempo, antes de o homem branco cobrir de sangue suas terras. Agora, em medida emergencial está sendo destinado atendimento médico e alimentos. Mas para muitos, essa ação chegou tarde demais. Mesmos ainda vivos, seus corpos não conseguem mais reagir ao alimento que por anos nunca lhes chegou. Nem da terra, nem por helicópteros.

É uma vergonha tamanha, vivermos em País que tem nas cores de sua bandeira o verde de nossas matas, mas que na prática está tomada de cinzas. Uma reação enérgica da sociedade é mais que necessária. Se não for pela empatia, pela consideração aos ‘seres humanos’, o significado do termo yanomami, que seja pelo amor ao lucro. Afinal, qualquer investidor sabe que a manutenção da floresta é um negócio atrativo. Que as mudanças climáticas batem às nossas portas e que sem os povos que vivem nas florestas, seus verdadeiros guardiões, vamos todos pro brejo. Um brejo de mercúrio.

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