Praça e escola se completam, não competem!

Praça e escolas não são concorrentes.

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Praça  é espaço de convivência, que influencia diretamente no microclima local, é abrigo e fonte de alimento para animais urbanos, leia-se humanos também. Auxilia muitas vezes na condução do trânsito, além de exercer um importante papel em relação à questão visual e estética. Ela retém águas que poderiam invadir os imóveis e ajuda a irrigar o lençol freático. É lugar de formação de memória afetiva, inspiração para músicas, filmes, vidas entrelaçadas! E escola? Escola é onde aprendemos tudo isso e muito mais.

Praça e escolas não são concorrentes. Ou ao menos não deveria  haver uma disputa onde cada uma  precisa provar ser mais importante que a outra.  Uma praça não nasce de uma hora para outra, assim como uma escola. Mas praça e escola,  podem sim, ser destruídas do dia para a noite. E é isso o risco que paira sobre a Praça das Aroeiras, no Jardim Social que pertence ao bairro Yolanda, em Foz do Iguaçu.

Pouca coisa justifica a destruição de uma praça concebida em 1974, que consta inclusive na minuta do loteamento. Nem mesmo uma escola! E digo isso no meu lugar de fala, porque também sou professora e mãe e defendo com unhas, dentes e palavras esse espaço vital. Mas escola não deveria jamais disputar lugar com praça. É como escolher qual filho amar mais. Não tem sentido!

Não bastasse isso, as informações são de que a área em questão é uma ZR1. Ou seja, uma zona exclusivamente residencial, que não comportaria uma escola. Futuro do pretérito! Mas vamos lá, o X da questão não é construir a escola em bairro residencial. Mas por fazê-la condicionada à derrubada de uma espécie de oásis.

Ao fundo exemplares de araucárias, no centro um pau-brasil e dois ipês roxos à esquerda mostram a diversidade da flora local. Foto: Alessandra Garbelloti

A briga em torno das árvores da Praça das Aroeiras vem se arrastando desde 2019. Foi iniciada no Ministério Público e hoje convertida em uma ação popular. Os moradores que defendem a existência da Praça das Aroeiras, obviamente apoiam a construção de uma sede própria para a Escola Municipal Professora Lúcia Marlene Pena Nieradka. Porém, com cada macaco no seu galho.

E se há uma luta para que as árvores não morram, há outra para que a Escola Municipal Professora Lúcia Marlene Pena Nieradka realmente, nasça e floresça. Sim, pois a história de sua formação assemelha-se a um parto. Após ser improvisada em uma igreja, há quase 20 anos,  hoje funciona no modo gambiarra, sob as arquibancadas do estádio Pedro Basso – uma área particular cedida ao Município em razão de um antigo acordo, e que  não possui espaço para ampliação.

Se agora nos perguntamos como é que uma escola foi parar embaixo de uma arquibancada, se a nova sede for adiante, no local previsto, no futuro irão perguntar como é que a escola foi parar sobre as árvores! Jamais uma escola deveria estar sob uma arquibancada. Ela é estrela principal, merece toda benfeitoria de um camarote. Deveria ser a estrela do palco.

A própria Prefeitura, no processo, confirma que há outros locais no bairro para sediar a Escola. Não há necessidade de onerar os cofres públicos com a compra de outro terreno.  Basta bom senso, boa administração, visão para a melhor qualidade de vida dos munícipes. E pensar que é possível dar à Escola Municipal Professora Lúcia Marlene Pena Nieradka a merecida sede própria, sem tirar inclusive de seus alunos, o direito de usufruírem da Praça das Aroeiras.

Os moradores da região receberam com espanto e angústia a notícia da suspensão de uma liminar que tinha por finalidade pedir atenção para que as leis sejam cumpridas. E agora a chamada pra uma nova licitação, coloca em risco o verde das árvores. Ainda de acordo com os mesmos, a Prefeitura de Foz manifestou em juízo que há outros três terrenos próximos. Mas um deles seria pequeno e não comportaria o empreendimento; outro está reservado para projetos futuros e um terceiro estaria fora da distância estipulada pelo Município.

Mas eu me pergunto: não é mais fácil adequar um projeto a um terreno, que nadar contra a corrente? Qualquer agente público que trate de questões relativas à obras públicas tem obrigação de estudar sobre impacto ambiental e sustentabilidade. Me parece que alguém não está fazendo a tarefa de casa.

Talvez a única chance de preservar as árvores seja a Prefeitura de Foz compreender que os tempos mudaram. Que hoje, destruir uma praça para construir uma escola, é descobrir um santo para cobrir o outro. Que é possível conciliar a proteção do espaço verde com a construção da escola em outra área, tão boa e bem localizada quanto a região da praça.

Imaginem que triste lição de casa os alunos irão aprender, se as árvores protegidas por Lei, como araucária, ipê, pau-brasil, entre outras, forem derrubadas? Como vai ser, convidar as crianças a cultivarem feijão no algodão e explicar a elas que os adultos não foram capazes de proteger as árvores frondosas que uma dia estiveram ali?

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