Pitbull o vilão que também é vítima: relato de um ataque
Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Nessa noite de quinta, 07 de julho, tive uma das piores experiências com animais. Uma das, pois desde que me entendo por gente eu estou tentando ajudá-los. Eu havia acabado de voltar do passeio com o Chocolate. Chocolate é um border collie que adotei, depois que foi salvo de um tiro e ripadas na cabeça. Chocolate tem índole agitada, mas é um menino grande que adora brincar. Ele quer brincar de morder, mas sabe seu limite. O máximo que faz é dar umas patadas… Já estava dentro de casa quando escutei barulho na rua, mas imaginei que poderia ser alguém apenas conversando alto.
Depois pensei que poderia ser briga e era melhor nem abrir o portão. Mas algo parecia fora do normal, havia grito de cachorro. Deduzi que podia ser um cachorro pegando um dos gatos da rua e alguém tentando impedir. Abri o portão de modo que Chocolate não atravessasse e vi uma cena terrível: um pitbull abocanhando o cachorrinho da casa vizinha. Entrei em pânico, tinha que fazer algo. Corri, pedi pra que prendessem Chocolate, pois do contrário seria mais um cachorro para apartar/vitimar. Desenrolei a mangueira com um longo esguicho de metal na ponta e levei na rua. Não alcançava e voltei no quintal para soltar mais uns metros. Cheguei perto do cachorro e não sei onde arrumei coragem e colocava a parte de metal dentro de sua boca, para forçar a abertura, e não fazia nem cócegas. Então meu irmão chegou com uma barra de cano de PVC, de mais de um metro, e não sei se enfiou em sua garganta ou fez de modo que funcionasse como uma macaco, até obrigá-lo a soltar a patinha do cachorrinho.
Foram momentos de horror. Carros passando, isso tudo foi no meio da rua! Pessoas assistindo, não querendo se envolver. Eu gritando por ajuda. O cachorrinho gemendo de dor. O pitbull sem abrir um milímetro da mandíbula. O seu tutor falando que ele foi agredido anteriormente, os vizinhos dizendo que não. Um circo de horror. Pedi socorro a uma ONG que ligou para uma clínica de plantão, para solicitar o atendimento, pendurado na conta. O cachorrinho está estabilizado, e que São Francisco de Assis assim o cuide.
O fato é que o citado pitbull já havia atacado uma criança da própria família e teria escapado do corredor em que fica. Pois eu fiquei tão desesperada com a cena que, após o ocorrido, eu gritava para seu tutor que pitbull tem que andar com focinheira, ao que ele respondeu que ele estava dentro do quintal! Ou seja, pior ainda, sem segurança alguma.
E a pergunta recorrente: e se no lugar do cachorrinho abocanhado, fosse uma criança? Seria uma carnificina, pois as pessoas iriam tentar socorrer com as próprias mãos e mais vítimas teríamos. Como era ‘só’ um cachorro, o risco para salvá-lo ficou na conta de dois malucos, no caso eu e meu irmão. Nós que tentamos apartar o pit que não queria soltar a presa, também corremos sérios riscos. Se ele tivesse se voltando contra nós, não sei se estaria aqui pra escrever esse texto…
Até quando? Até quando vamos assistir à TV, escutar no rádio, presenciar nos impressos e ler nos portais e mídias sociais sobre os ataques dessa espécie? Até quando vamos escutar um barulho na rua e nos deparamos com tal cena? “Ah, mas a culpa não é do animal, é de quem cria”. Então vamos botar ordem no barraco! Só nessas duas semanas, esse é o terceiro caso similar, que tenho conhecimento…
Eu sei que há leis que exigem que animais bravios só sejam conduzidos nas ruas com focinheiras. Mas precisamos de mais! E que sejam cumpridas!
Que todos os pitbulls das cidades sejam chipados; que seus tutores sejam catalogados e identificados; que haja especificação mínima em relação a área em que o animal é mantido; que essa área seja segura para as necessidades do animal e para terceiros; que o pitbull que não seja de criadouro legalizado, seja castrado; que esses animais tenham cuidados veterinários frequentes; que sejam monitorados para saber das condições em que são tratados; que os seus tutores tenham condições mentais e financeiras para criá-los e frequentem cursos de adestramento, entre outros.
“Ahhhhhh, mas tudo isso é muito caro e inviabiliza ter um animal”, vão esbravejar alguns. Este deveria ser no mínimo o investimento, o custo benefício para quem deseja tem um pitbull, para entre outras finalidades, ostentação. Sim, pois muita gente não quer um cachorro. Quer um pitbull pela fama que a raça promete.
Conversei com uma pessoa que trabalha com resgate de animais e ela me explicou algumas das técnicas que usa em situações similares. Mas na hora do sufoco a gente não pensa em nada. Depois que compartilhei o vídeo no meu Instagram uma pessoa escreveu que era ‘só’ laçar o cachorro com a mangueira e fazê-lo perder o fôlego. Na verdade também foi essa a dica de um profissional da área. Porém, ele explicou que essa técnica só pode ser aplicada a quem realmente conhece o limite do animal, do contrário irá matá-lo asfixiado.
“A questão do pitbull é muito melhor trabalhar na ação preventiva. Imagina se, Deus me livre, que um pitbull ataque uma criança? A única maneira de fazer ele soltar, é enforcando-o. Se ele atacasse uma criança ou um adulto, não teria dúvida em fazer essa técnica de enforcamento. É muito importante a prevenção. E a prevenção é a focinheira em local público. Animal que escapa tem que ser multado e o cachorro apreendido, antes de acontecer algo grave. O pitbull não é agressivo, mas é muito fácil de ele sair de seus limites e tornar-se agressivo. Uma vez o dente cravado, não há como puxar o cachorro pela corda. Ele vai rasgar o outro animal atacado e ele ainda pode avançar em quem está manejando a corda, a mangueira, ou o que for. Não é simples, assim…”, adverte um profissional da área.
Nessa história, a vítima é o animal também. Cada espécie tem um comportamento, uma necessidade. Se todo mundo sabe que um pitbull exige cuidados diferenciados de um viralata caramelo, que todos passam as mãos e ele abana a cauda, é claro que o cuidado do tutor com o mesmo tem que ser diferenciado. E é óbvio também que as autoridades precisam fazer sua parte. Devem colocar em prática as leis, fiscalizar, monitorar, prevenir. Evitar que animais e pessoas sejam atacadas e que os pitbulls sejam simplesmente usados como troféus. Um troféu que é exibido nas ruas e na volta para casa não sabemos se é conservado em um lugar à altura ou jogado em um canto qualquer.
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