Pequenos cachorros, grandes negócios

A pessoa adquire uma fêmea e a coloca para reproduzir. Não faltam interessados no produto.

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Os empreendedores transformam ideias em fonte de renda, mas há quem prefira fazer de animais de raças pequenas, o seu grande negócio. Com cães da moda, shi-tzu e lhasa, não é diferente. Muita gente percebeu que transformar bichinhos fofinhos em máquinas de criar, talvez fosse um negócio da China!

Realmente, a ideia lembra um golpe de mestre. A pessoa adquire uma fêmea e a coloca para reproduzir. Não faltam interessados no produto. Muita gente vende as ‘peças’ antes mesmo de elas saírem da matriz. Imaginando que crie em média duas vezes por ano, gerando uns 8 filhotes, parece um bom empreedimento, supondo que cada filhote pode custar entre 400 a 4.500 reais.

Mesmo que os valores pagos sejam a metade, mas ao dobrar ou triplicar o número de matrizes, as cifras podem aumentar ainda mais!

Na teoria parece fácil, mas o fato é que na prática, quem aposta em negociar cachorro precisa lembrar que como em outro ramo qualquer, tal empreendimento precisa de capital de giro, de investimentos e dedicação. Uma ração boa, cuidados veterinários, principalmente vacinas em dia, banho e tosa, medicação, limpeza, passeio, cuidados, atenção.

Um remédio para matar os vermes e uma vacina importada para cobrir as principais doenças que ameaçam os cachorros, por exemplo,  não saem por menos de 120 reais. Multiplique isso por três, para garantir a imunidade do animal anualmente, e as despesas já vão soar maiores que as receitas… Se o animal tiver problema renal, o quilo de ração pode sair por R$54,00. Apenas uma consulta no veterinário para uma ‘olhadinha’, são no mínimo 130 reais pra começar. E sucessivamente…

O fato é que muita gente quer lucrar,  mas não quer investir no animal. E então nos deparamos com cadelas que mais se assemelham a carcaças. Tomadas de pulgas e carrapatos, raquíticas, com a pelagem descuidada e olhos remelentos. Muita gente nem tem coragem de mostrar a mãe dos filhotinhos, para que a aparência não denuncie sua exploração.

Um animal não poderia jamais ser tratado como máquina, tendo suprimido de si o desejo maior de todo ser vivo, que é viver livremente. Mas isso parece uma utopia muito distante, pois nos obrigaria a revermos o nosso jeito de lidarmos com o mundo e com os animais usados para fins alimentícios.

Mas, ainda mesmo para explorar os animais para fins alimentícios exigem-se boas práticas. Um exemplo está no conceito de bem-estar, que indica uma metragem mínima das caixas que transportam aves, para que suas carcaças cheguem inteiras até o  mercado. E quem é que regula o negócio de fundo de quintal?

É necessário pensar em políticas públicas que coíbam práticas em que os animais sejam transformados em máquinas de procriação. Se a pessoa quer criá-los para fins comerciais, que proporcione o mínimo de cuidados. Que o animal tenha o mínimo de dignidade. Que haja registro, pagamento de taxas, fiscalização e multa para quem não segue as normas básicas.

Se a pessoa quer ganhar dinheiro nas costas do bichinho, que também meta a mão no bolso para cuidá-lo como merece. E mais, que seja responsabilizada quando esse não lhe servir mais como fonte de renda. Que não o descarte como lixo. Que é o que vemos por aí, animais de raça que ao mesmo tempo que deixam de criar, também deixam de interessar a quem faturou com seu útero.

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