Hortas urbanas: caminho para amenizar a fome

Os terrenos baldios e mesmo os quintais podem ter melhor aproveitamento, se houver o estímulo ao cultivo de alimentos adaptados ao clima de cada região. Em um Brasil de extensão territorial gigantesca, é vergonhoso que haja 30 milhões de pessoas passando fome.

Aida Franco de Lima – ARTIGO

As estatísticas dizem que 30 milhões de brasileiros passam fome. Não é aquela ‘fominha’ de abrir a geladeira, olhar e fechar a porta sem saber o quê quer comer. É ter vontade de comer e abrir a geladeira e não ter opção. É nem ter geladeira!

Mais de 30 milhões de pessoas passam fome no Brasil. Em Foz do Iguaçu, conforme importante levantamento desse Portal, são 35 mil pessoas que recebem 105 reais por mês.

Na Foz do Iguaçu que não cabe em cartão-postal, mais de 35 mil pessoas sobrevivem com R$ 105 por mês, míseros R$ 3,50 ao dia. São cerca de 15 mil famílias em situação de extrema pobreza, maior contingente desde 2012, quando foi instituído o Cadastro Único, ferramenta que dá acesso a programas públicos e a benefícios do governo federal.

O valor da cesta básica atual, calculada pelo Procon, é de R$ 1.226,12, sendo que o salário mínimo é de R$ 1.212. Se um assalariado investisse todo seu dinheiro em comida, ainda assim ele não conseguiria se alimentar suficientemente. O que faz uma pessoa com 105 reais por mês? A coisa está tão feia que um litro de óleo de soja, o comum, o mais popular, está cotado em média de 10 reais, com diferença de três reais para o de canola, que sempre foi muito mais caro e está ao custo médio de 13 reais.

Mesmo no fundo de um quintal com concreto, o espaço que seria para uma floreira deu lugar ao cultivo de abóboras, em São José dos Pinhais. Fotos: Gildete Barbosa

Se os gestores reclamam que não há dinheiro suficiente para bancar as famílias abaixo da linha de pobreza, o fazem porque são incompetentes e negligentes com as dores alheias. A ausência de dinheiro é proporcional à incapacidade técnica em buscar saídas para a crise alimentar que bate à porta e às ruas do morador de Foz ou de qualquer outro local do Brasil. Parece mesmo água e óleo, sendo que quem passa fome é o povão e o óleo é quem tem a caneta, mas não se mistura.

Somos o quinto maior País do mundo em extensão geográfica, não se compara ao Japão que tem dificuldades com espaço e mão-de-obra, mas ainda assim é terceira potência do Planeta. É revoltante saber que temos terra pra plantar e estamos vendo as pessoas chorando de fome. Como pode isso? E não estou falando nem de monocultivo. Nem estou mencionando a exportação de grãos ou de grãos convertidos em comida pra alimentar gado, pra que sejam mortos e transformados em alimentos industrializados.

Também não estou falando da devastação de nossas florestas para alimentar o gado e nem nas condições deploráveis em que esses e outros animais ‘industrializados’ vivem e são transportados para o abate… Uma vez peguei um frango, que uma granja descartou. Tinha as patas atrofiadas, nos poucos dias que sobreviveu em casa, ficava apenas deitado. Foi descartado porque a ‘carcaça’ não seria boa. Estava deformado e lesionado.

Terreno baldio que antes era motivo de problema para vizinhos, hoje produz alimentos usados para as refeições semanais das famílias e vizinhos, em Cianorte. Foto: Aida Franco de Lima

Mas voltando aos vegetais. Estou falando dos terrenos baldios nas cidades, que estão tomados de lixo e mato, que podiam ser transformados em hortas comunitárias. Me refiro ao lixo que não é separado e que poderia ser convertido em dinheiro, em moeda de troca, com o governo intermediando essa negociação. Se houvesse interesse, as prefeituras incentivariam a coleta ou doação do material, trocando-o por bônus, que pudesse ser usado na compra de comida, seja na feira, seja no mercadinho do bairro.

Temos milhares de espécies que podem ser cultivadas em pequenos espaços, colhe uma e já planta outra. Legumes, hortaliças, frutas, tubérculos, entre outros… São alimentos que fazem e muito a diferença no bolso de quem nada tem. E isso não vai gerar concorrência desleal, pois trata-se de incentivar a produção de alimento para quem não é cliente de lugar algum.

Claro que o buraco é mais embaixo, pois como dizia o Betinho, quem tem fome tem pressa. Não dá tempo de esperar o ciclo dos alimentos para fazer dormir a criança que pede comida e não há nada para oferecer. Mas é algo a se pensar e praticar, pra ontem, pra ao menos em curto prazo a terra nos presentear com aquilo que o homem não é capaz de inventar e não vive sem. Sem matéria-prima, o homem vai inventar comida de onde? É igual a liberdade, mas também o oxigênio, não vivemos sem! Hortas comunitárias, escolares, caseiras, não vão estragar a engrenagem da economia, aliás, vão ajudar a movimentar, principalmente pelo valor nutricional que a variedade de alimentos pode ofertar. Afinal, saco vazio não para em pé!

Além de alimentar, evitar que os terrenos baldios sejam sinônimo de transtorno, as hortas urbanas oxigena a paisagem. Foto: Aida Franco de Lima

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