Engenharia e ecologia: um diálogo urgente
Aida Franco de Lima – ARTIGO
Deveria haver uma lei, para que os nomes dos (ir) responsáveis por obras públicas, que destroem a natureza, recebessem também uma placa. Deveria haver nessas obras os nomes, para que fossem sempre lembrados, quem autorizou, incentivou, deliberou, arquitetou, planejou, uma obra de concreto onde havia uma mata, uma árvore centenária, uma nascente. Onde havia vida. Ficaria melhor ainda se houvesse uma foto de como a área era antes e depois da tal obra. Algo como expectativa x realidade.
Não é possível que em pleno 2022, com os mais variados softwares, os engenheiros, arquitetos e todos os profissionais que projetam e desenham nossas cidades não consigam construir prédios, calçadas, estradas, praças e outras edificações, simplesmente destruindo em horas o que a natureza leva anos para nos presentear. Será que esse povo fugiu das aulas de História? Será que eles nunca estudaram sobre as muralhas da China ou os aquedutos de Roma? Tenho uma leve impressão de que se a preservação dessas obras dependessem de boa parte dos profissionais que planejam nossas cidades, estariam seriamente comprometidas! Há exceções e sempre é bom lembrar. Mas o que temos são cidades cada vez mais sem memória e impermeabilizadas de fio a pavio.
O brasileiro, que tem dinheiro, vai visitar o Coliseu em Romã, as pirâmides no Egito, mas muitas vezes é esse mesmo que manda derrubar ou que concebe um projeto, que não respeita um prédio histórico, um resquício de natureza! Normalmente são os mesmos que postam fotos aéreas de lugares paradisíacos, em suas redes sociais, são os que fazem lobby para abrir estradas em Unidades de Conservação. Vide o caso da Estrada do Colono, por exemplo, ou da Estrada Jambers, em Cianorte. E o finado Bosque dos Macacos, também.
Na manhã da última terça, 05, abri o Facebook do H2Foz e me deparei com mais uma cena de destruição em Foz do Iguaçu. Dessa vez, 10 araucárias que foram derrubadas no local onde era a antiga Santa Casa. Não interessa se as árvores foram plantadas ou nasceram sem a intervenção humana. Estamos falando de exemplares com décadas de existência, que deveriam ser protegidos pela Lei, que deveriam ser contemplados e não tidos como empecilho ao progresso.
Me pergunto se os órgãos de classe e os profissionais, de modo individual, procuram estudar e ler a respeito dos problemas ambientais e a necessidade de adaptar sua plantas às plantas de verdade, o concreto à paisagem. E não o contrário. Será que esses bacharéis que mandam derrubar árvores, conhecem o significado do termo sustentabilidade?
Estamos em meio a um modismo em que nossas cidades estão cada vez mais impermeabilizadas e envidraçadas. Onde havia rua com paralelepípedo tacaram piche, em que a água da chuva não infiltra em nada, apenas escorre. Conheço calçadas em que há uns dez anos eram todas tomadas de árvores que protegiam as fachadas dos raios de sol. Hoje, como não podem impedir que o sol continue com seus reflexos, e com a ausência das árvores, usam toldos que encobrem toda a vitrine! Inventaram de por vidros até nos muros das casas, vitimando milhares de aves e insetos que desconhecem tal tecnologia. E haja água pra lavar!
Necessitamos rever o que está acontecendo com nossas cidades. Precisamos inserir programas de Educação Ambiental, Legislação Ambiental, Sustentabilidade e por aí a fora, junto aos mais variados órgãos. Realizar seminários, workshops, mesas redondas e mesmo saída a campo com os integrantes de instituições que tomam as decisões que vão impactar diretamente na vida da comunidade. Devemos falar o óbvio para quem projeta a vida urbana, para quem interfere na vida rural. Não é possível continuarmos assistindo a tanta destruição porque encontram brechas jurídicas. Precisamos mudar as leis, o pensamento envolto no concreto, porque mudar de Planeta não vai ter jeito não!
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