Ambientalistas: de heróis a vilões

Aida Franco de Lima – ARTIGO

Quando foi que os ambientalistas passaram a ser tratados como vilões? Lembram de quando se falava em movimento ambiental e logo alguém citava o Greenpeace? Mas de uns tempos para cá, ambientalistas ou ativistas ambientais, viraram comunistas, pessoas que são contra o progresso. Quando é que começou essa lavagem cerebral?

Hoje não há quem tenha escutado sobre a importância de preservar a natureza. Se respeita isso, bem… é outra história. E não era para ser o contrário? Quanto mais a comunidade for alertada que a proteção ambiental está ligada diretamente à sobrevivência humana, não era para os ambientalistas terem um outro conceito? Não era para que os ativistas ambientais fossem respeitados, escutados e até pagos para que fizessem seu trabalho?

Doce ilusão. Que nada! Primeiro que jogam nas costas dos ambientalistas uma dívida que é de toda a sociedade, como se defender a natureza não fosse obrigação de todos; Segundo, muitos daqueles que são pagos para que trabalhem nos setores ambientais, estão apenas em uma atividade como outra qualquer e não estão dispostos a sujar o sapatênis. E terceiro, sempre terá alguém para desqualificar o trabalho voluntário, muitas vezes pago do próprio bolso.

É clássico, ainda mais nas redes sociais. Se um ativista se opor a um desmatamento, à derrubada de um bosque para o alargamento de uma via, logo incontáveis especialistas em nadica de nada dirão em uma só voz: você é contra o progresso e quem vive de passado é museu. No Brasil atual, se você se colocar em defesa de uma árvore, é capaz de ser linchado (a). Lembram daquela adolescente sueca, a ativista Greta Thunberg? A menina levantou a voz para alertar sobre o grave problema das mudanças climáticas e foi transformada até em meme. Tempos sombrios!

Pronto, dado o veredito, o ambientalista, ecochato, xiita, comunista que não está contente que vá pra Ásia, Europa, América… como dizia na música da banda Biquini Cavadão.

É muito comum que uma parcela da sociedade, sempre bom lembrar que há exceções, não está interessada na causa ecológica, não participa e não está nem aí com os problemas que até então não bateram à sua porta. Ou se bateram, finge não ver. Então quando há algum fato que a mesma sociedade imputa a responsabilidade aos ambientalistas, e isso não é resolvido, é um ‘Deus nos acuda’. “Ficam aí na mamata, só pegando dinheiro público e não fazem nada!”, essa é outra fala clássica.

Hoje li uma frase que dizia: “somos a última geração capaz de salvar a Amazônia”. Se nós, que moramos nas cidades, não nos importamos com uma árvore, se não conseguimos impedir que uma empresa que cobra rede de esgoto polua os córregos, o que é que estamos fazendo para proteger de fato nossas riquezas naturais?

Chega feriado, ainda mais nos dias ensolarados, quem ainda tem poder aquisitivo para isso corre para ver as Cataratas, vai para a praia, mergulhar em Bonito, pescar no Mato Grosso ou turistar de Jeep nas dunas do Maranhão, entre outros programas em locais paradisíacos. Esse povo todo adepto a esses e outros passeios, será mesmo que está fazendo algo na volta para casa, a fim de garantir que essas maravilhas estejam asseguradas para quando os filhos de seus filhos nascerem? Não são os mesmos que reclamam dos ambientalistas?

Ambientalista é chato mesmo, porque ele toca nas feridas da sociedade. Alerta, avisa, tenta esclarecer, é igual mãe! Depois que acontece algo, pode gritar aos quatro cantos: ‘eu avisei! Mas e se for tarde demais? E se não houver mais tempo para mudarmos o rumo do barco e afundarmos todos juntos?

Em tempo, o Brasil e o mundo ainda espera uma resposta sobre o que houve com o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, desaparecidos na Amazônia.

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