Águas de março e o desperdício no resto do ano

O cuidado com a água exige esforços dos indivíduos, corporações e governantes. As campanhas são essenciais, mas os exemplos devem vir também dos grandes consumidores.

Por AIDA FRANCO LIMA | OPINIÃO

O mês de março lembra a importância de um produto precioso. Mais exatamente no dia 22 é comemorado o Dia Mundial da Água. E o que é que o mundo está fazendo para preservar esse bem essencial à vida? Pouca coisa, a meu ver. Até parece que água não vale nada, é tanto desperdício, tanta poluição afetando nossos mananciais, que quando defendemos-a, parece que estamos falando de ouro de tolo.

O homem tem tecnologia suficiente para procurar sinais de vida em outros planetas, planeja colonizar outros mundos. Mas não parece ser capaz de cuidar das nossas fontes de água, das minas, nascentes e todos os nomes que conseguimos nominar ao local que a água insiste em correr.

As crianças que estão nas escolas e os universitários, muito provavelmente, em diversos momentos no ambiente formal da educação, aprenderam sobre a importância da água e que ela é sim, finita. Mas e os seus pais, os adultos com quem convivem, muito provavelmente, não tiveram essa mesma orientação. E muitas vezes atribuímos às crianças a missão de ‘conscientizar’ os adultos.

As campanha, governamentais ou não, orientam o cidadão a não desperdiçar água, principalmente nos períodos de vacas secas, ou melhor, magras. Em determinadas época, há até multa para quem joga água pela valeta. O valor da fatura fica mais alta.

Mas e quais medidas as prefeituras, governos estaduais e o federal estão tomando para reverter esse processo que coloca em risco a nossa água? Prestem atenção às cidades e bairros onde moram. Há serviço de saneamento básico? A empresa de saneamento coleta e trata os resíduos ou ela joga descargas que não consegue tratar direto nos rios? Os rios recebem somente águas das galerias pluviais ou há ligações clandestinas? E a mata ciliar, ela existe na vida real ou só na teoria?

Claro que cada um deve fazer sua parte. E nós, indivíduos comuns também! Desde o papel de bala à lata de bebida, da bituca de cigarro ao chicletes, tudo isso que jogamos pelas ruas, vai parar nos leitos d’água. Não há mágica quando um resíduo é descartado em local inadequado, direta ou indiretamente, essa conta vai chegar até nós.

Mas as grandes corporações precisam dar sua contrapartida. As multinacionais, os segmentos que sugam a água para regar seus lucros, o que estão fazendo para repor o impacto gerado? As montadoras, inclusive aquelas que vieram para o Brasil há alguns anos justamente porque havia água farta para usarem a vontade, como elas devolvem esse empréstimo de um bem coletivo? E o setor rural, qual é a parte que lhe cabe nesse latifúndio das águas e minifúndio de devolutivas à sociedade?

E as empresas de saneamento, transformadas em fundos de investimentos, o que elas fazem além de tratar a água e vendê-las para nossas torneiras? Elas estão mesmo tratando todo o esgoto ou estão lançando em rios fantasmas, em domingos ensolarados quando quase ninguém percebe? E os esgotos clandestinos, alguém está fiscalizando? Ainda nem falei do problema que a excessiva impermeabilização do solo também gera. É tanta coisa que nem cabe aqui nesse espaço, o texto diferente da água, ficaria infinito.

A água deveria ser cuidada como ouro. Mas ainda somos limitados, porque ainda que saibamos que a água é fonte da vida, não lhe damos a importância devida. A água é ouro, e tolos somos nós.

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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