Trabalho e transporte: direitos necessários
Quanto mais longe moram do trabalho, mais obstáculos são enfrentados pelos que necessitam de transporte público rumo aos postos de serviços.
Por AIDA FRANCO LIMA | OPINIÃO
Na frase “o trabalho dignifica o homem” há uma série de questionamentos que devemos fazer e considerar. Ainda mais quando pensamos na sociedade atual, em que o tempo dedicado ao trabalho é significativamente maior que o despendido às outras atividades diárias.
Há algumas décadas, escrever no currículo que tinha conhecimento de informática era um diferencial. Não fumar e realizar trabalho voluntário ainda são. E morar perto do serviço, idem. Sim, as empresas estão preocupadas em saber se o funcionário vai chegar a tempo.
A greve dos metroviários de São Paulo, iniciada no começo da quinta (23), chegou ao fim na manhã do dia seguinte (24) e expôs um fragmento do impacto da falta de transporte coletivo na vida do trabalhador que não tem outra opção para deslocar-se ao trabalho. Quem mora em cidades pequenas, muitas vezes, nem percebe o privilégio que é ir a pé ou não enfrentar trânsito para bater seu cartão ponto.
Lembro-me de quando estudava em São Paulo, saindo de Minas ou Paraná. Chegava de madrugada à Barra Funda ou ao Tietê, via os trabalhadores com mochila nas costas e ficava perguntando-me quantas horas eles dormiam. E quando pegava ônibus da Barra Funda até Perdizes, semanalmente, observava a maior parte de mulheres, trabalhadoras domésticas, que se sentavam no fundo do ônibus ou rente à janela e aproveitavam para cochilar até a chegada ao seu destino.
Morar relativamente perto do trabalho ou ter uma malha viária que facilite o deslocamento pela cidade faz parte do combo que influencia diretamente na vida do trabalhador. As pesquisas demonstram que na hora da contratação isso tem peso. Afinal, se o trabalhador leva muito tempo para chegar ao trabalho, sua produtividade também fica comprometida.
Tudo interfere no ir e vir do trabalhador. As políticas públicas são essenciais e impactam diretamente o tempo que cada pessoa vai investir rumo ao seu ganha-pão. Ter condições de deslocar-se pela cidade de modo seguro, com veículo próprio, inclusive bicicleta, é um direito que precisa ser adquirido também.
Muitas cidades estão adotando a tarifa zero para transporte coletivo municipal, terceirizado. O morador comprova o endereço, leva seus documentos e sai com um cartão eletrônico que lhe possibilita usar o transporte, sem ter de pagar a tarifa. Quem não tem o cartão paga normalmente. Claro que a conta é dividida com quem usa ou não o transporte, pois isso vem de nossos impostos. Mas quando ela rachada por muita gente tende a ficar menor.
Essa medida de implantar o passe livre é essencial principalmente às famílias dos loteamentos distantes dos centros urbanos. Essas, muitas vezes, obrigam-se a ser pioneiras de residenciais que não têm qualquer infraestrutura, além de suas próprias moradias. Nesse caso, transporte é fundamental para ir não só ao trabalho como para conectar as pessoas com a própria vida urbana.
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