Quer queira, quer não, o carnaval chegou!
Apesar de o carnaval liberar a imaginação, atualmente tem sido questionado o fato de homens vestidos de mulheres e vice-versa, dar margem à transfobia.
Por AIDA FRANCO LIMA | OPINIÃO
O brasileiro é um povo sofrido, e o carnaval é a época do ano que lhe cai como uma luva. Quem odeia carnaval normalmente não reclama do feriado. Pode não gostar das fantasias, ritmos e farra que acontece nas cidades com tradição carnavalesca. Ah, mas quem é que não curte um feriadão? Depois de dois anos de pandemia, a festa voltou!
Porém, em boa parte do país, carnaval é só feriado mesmo. Muito diferente das capitais e centros maiores, que comemoram com desfiles de blocos, bloquinhos e bailes. Afinal, em muitas cidades do interior do Brasil, as festas de carnaval ficaram apenas na lembrança. Carnaval é como salas de cinemas, aos poucos sai de cena das cidades-satélites.
Cianorte, no Noroeste do Paraná, no final dos anos 1980, chegou a ostentar inclusive uma escola de samba, com direito a desfile pelas avenidas. Com o tempo, o carnaval ficou restrito aos clubes até dar um adeus. Se um estrangeiro buscar carnaval fora das cidades tradicionais, ele vai achar que errou de país. Esse é apenas um único exemplo entre muitos por aí.
É a mania de generalizar que no Brasil futebol e samba brotam em todo lugar que gera essa falsa sensação de que todo mundo sabe sambar e sai fantasiado pelas ruas, com prefeitos entregando chaves aos reis momos de norte a sul do país. Não é bem assim.
Mas onde a tradição do carnaval permanece a festa é no mínimo contagiante. É o momento em que os súditos viram reis. E cada um usa a roupa que desejar ou vai até mesmo sem ela. Algo sem limites para a imaginação. Como no caso do bloco Menina Veneno, em Foz do Iguaçu. O que era uma brincadeira familiar contagia a cidade há mais ou menos 40 anos, com os homens emprestando os guarda-roupas das mulheres.
Contudo o que no passado era apenas engraçado hoje é questionável, pois essa é, também, uma forma de transfobia. Ou seja, é um modo que atinge pejorativamente a pessoa trans. E pode ser que no futuro o Menina Veneno reveja seu conceito em nome da alegria que o carnaval representa, para continuar arrastando e arrasando quarteirões.
Relacionada ao entrudo português, em que as pessoas se divertiam jogando ovos, farinha e água umas nas outras, a brincadeira virou coisa séria – e claro que carnaval é uma indústria, em cuja festa nem todos conseguem ficar no camarote. No entanto ainda assim é a folia mais popular que atrai multidões de todas as idades e perfis: sociais, econômicos e culturais.
Você já foi a algum baile ou festa de rua de carnaval? Muita gente questiona que graça tem ficar dançando em volta de um salão ou no meio de uma multidão suada pulando um ritmo repetitivo. Para quem vai tem toda a graça do mundo. Claro que há os desgostos, que envolvem violência e roubos. Mas se perguntar pra qualquer folião, vale o risco!
No Brasil dizem que o ano só começa depois do carnaval. É como se a data fosse um banho fresco para revigorar e animar para o resto do ano. Carnaval é alegria para a hotelaria, e em Foz a previsão é de 71% de ocupação dos quartos entre 17 e 21 de fevereiro. Ganha também o setor alimentício, de transportes, musical, entre outros. Carnaval invade o noticiário, leva os repórteres para misturar trabalho e diversão em uma coisa só.
Mas carnaval tem suas consequências. Saberemos em breve se as taxas de covid sofreram variações significativas do mesmo modo que o resultado do faturamento dos estabelecimentos do setor. Teremos os nomes dos campeões das escolas de samba de São Paulo e Rio, e os relatórios do saldo do carnaval nas estradas e boletins policiais. Bandeira branca, eu peço paz! Viva Dalva de Oliveira, vivas ao povo brasileiro.
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