A ferida aberta da boate Kiss

Na madrugada de 27 de janeiro de 2013 a boate Kiss, em Santa Maria no RS, que era palco de alegria dos jovens da região, transformou-se em cenário trágico

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Há dez anos, no dia 27 de janeiro, uma tragédia abalou o Brasil e repercutiu no mundo. Um incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), matou 242 pessoas. Do local, saíram com vida outras 636. E milhares de familiares e amigos foram atingidos pela dor, revolta e fuligens da injustiça, que chegam à alma.

Após uma década, sobreviventes, familiares e amigos das vítimas mortas não conseguem sair do pesadelo que envolveu a perda de seus entes queridos, assim como do sentimento de impunidade. Uma revolta em saber que estão em liberdade aqueles que deveriam zelar pela segurança de quem buscou diversão e encontrou a morte.

Assim como é necessário viver e encerrar a fase do luto, o julgamento dos acusados, em dezembro de 2021, portanto nove anos após a tragédia, tinha essa semelhança. Era a esperança de quem vivencia essa dor em amenizar o vazio deixado pela perda de vidas. E até mesmo da justiça.

Mas a esperança morreu rápido com a anulação do julgamento que condenara quatro pessoas por dolo eventual. Ou seja, mesmo que não se premedite uma morte, assume-se o risco de matar. A defesa conseguiu anular o julgamento, entre outros motivos, pela suposta parcialidade do juiz e por questionar o risco que os acusados assumiram em matar as vítimas.

Depois de oito meses presos, os acusados – condenados a penas de 18 a 22 anos de prisão – foram soltos. E, mais uma vez, todas as vítimas sentiram o beijo da inconformidade. As mesmas que esperam justiça também aguardam que os escombros do que restou da Kiss sejam transformados em um memorial.

Muitas homenagens foram feitas, como livro, filmes, reportagens, séries… A intenção é que tantas vidas anuladas não caiam no esquecimento da memória coletiva.

Mas nada vai estancar a dor que aflige quem chora pela morte de seus parentes e amigos. Assim como os traumas que assombram o imaginário de quem escapou das chamas, contudo levarão para sempre a névoa daquela noite trágica.

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