“Pensava que o futuro estava sob controle, mas a COVID mudou tudo!”
Essa é a impressão de alguém que vive há anos no exterior ao retornar para sua cidade natal.
“Mudaram as estações e nada mudou. Mas eu sei que alguma coisa aconteceu, está tudo assim tão diferente”. Essa é a impressão de alguém que vive há anos no exterior ao retornar para sua cidade natal.
Imediatamente começa a passar um filme na cabeça. Lia Lam lembrou da infância, vivida em Ciudad del Este, Paraguai e posteriormente em Foz. Mas a iguaçuense filha de chineses sempre teve semelhanças com a Menina Linda, musa inspiradora do cantor e compositor Vitor Kley: aos 17 anos voou para outros céus em busca de suas raízes.
Pousou em Taiwan, uma pequena nação insular localizada 180 quilômetros a leste da China: “naquela época sair da cidade onde vivi por anos era muito emocionante porque a Terra das Cataratas era bem simples e tranquila. Taiwan proporcionava uma vida mais corrida, com muitas coisas pra fazer, muitas coisas pra ver”, recorda. “Não foi uma transição difícil, pois quando somos jovens lidamos muito bem com mudanças e novidades”, completa.
No ano de 2004 Lia sentiu que precisava se aprofundar nos estudos e decidiu alçar voo novamente. A nova parada foi em Los Angeles: “cada cidade ou país que morei são bem diferentes um do outro. Taiwan é super conveniente e o custo de vida é baixo. Nos Estados Unidos é o oposto: tudo distante e caro, não me impedindo de me apaixonar por L.A. por causa do clima”, compara.
Mesmo estando longe a jovem mulher chinesa de alma brasileira sempre guardou a terra natal nas suas memórias: “tem uma parte no centro de Los Angeles que me lembra as lojinhas da Avenida Brasil, lojas de bijuteria e roupas”, afirma.
O tempo foi passando e Lia se estabeleceu na Terra do Tio Sam equilibrando vida pessoal, profissional, estudos e amigos. Porém, as coisas começaram a se desencaixar, por assim dizer: “no fim de janeiro de 2020 foi anunciado que o vírus da COVID-19 tinha atingido os EUA: inicialmente o uso da máscara era apenas “recomendado” pelas autoridades de saúde: no mês seguinte a vida parecia inalterada com pouca gente preocupada”, lembra.
O cantor e compositor Fiuk acertou em cheio ao constatar que “nada mais é como era antes, tudo mudou. Tantas coisas importantes que a gente deixou”. Lia contou que “em março as coisas estavam piorando: mandaram a gente trabalhar em home-office. E em maio a empresa suspendeu os contratos de trabalho por três meses. Na sequência houve uma reestruturação do quadro funcional”, explica.
A essa altura a sino-iguaçuense estava com o coração e a cabeça no Brasil, mais especificamente em Foz do Iguaçu, onde moram seus pais idosos, além de outros familiares. Sem pensar duas vezes, deixou tudo para trás, arrumou as malas e voltou para a cidade onde viveu sua infância e adolescência.
Todavia o retorno carregava outro sentimento: “antigamente voltava nas férias, cada dois ou três anos para rever os familiares, amigos e comer muita comida brasileira. Porém desta vez teve maior carga emocional: temia trazer o vírus para meus pais que têm idade relativamente avançada”, afirma.
E mesmo com distanciamento social em razão da pandemia, comparações sobre a rotina das cidades acontecem quase que instantaneamente: “os shoppings fizeram diferença em relação a cidade que deixei”, além disso “o uso do whatsapp dá maior eficiência ao comércio: agendar consultas, pedir informações sem precisar sair de casa, entre outras comodidades. Nos Estados Unidos não usam o aplicativo de mensagens dessa maneira, só o telefone fixo mesmo”, explica, sem perder o ar de surpresa.
Já em relação às medidas de combate ao coronavírus: “em Foz quase todo mundo usa máscara, há fornecimento de álcool em gel e sem dificuldades para comprar o mesmo. Mas… parece que aqui todos os restaurantes podem funcionar, ao passo que em L.A. somente os estabelecimentos que têm espaço aberto e distanciamento nas medidas determinadas podem atender nesse período atípico”, observa.
Quando questionada sobre como têm sido os dias em casa (no sentido literal e poético), se está em um “curso intensivo” para ser mulher prendada – com certificado de pronta para casar – a entrevistada é bem sincera: “não estou gostando, pois quando o coração não aperta por uns, aperta por outros e é ruim a sensação de estar tão perto e tão longe ao mesmo tempo, mas é necessário pelo momento. Estou focada na família, cuidando dos idosos e de mim mesma através da prática atividades físicas com regularidade para ficar mais forte”, conta. “Pensava que o futuro estava sob controle e de repente COVID-19 veio nos visitar e mudou tudo. Sinto saudades de não ter medo de abraçar os amigos e dar beijos no rosto”, lamenta.
Como tantas outras pessoas mundo afora, Lia também tem usado a internet para encurtar a distância e amenizar a saudade: “o pessoal de Taiwan está uma maravilha, tudo parece normal: eles usavam máscaras faz tempo, já era costume. Moradores de Hong Kong estão bem também, somente convivendo com restrições quanto à aglomeração: a vida está mais próxima da antiga rotina quando comparada a Foz e Los Angeles”, comemora.
O tempo passa, Lia Lam cresceu, mas não perdeu o otimismo e alto-astral: “espero que todo mundo seja vacinado o mais breve possível e que isso se torne uma gripe comum. Imagino que leve uns dois anos para as coisas voltarem ao novo normal: pelo menos sem restrição ao ir e vir, assim como de interação social”, diz.
Certamente é o desejo partilhado por muitos. Enquanto esse dia não chega, devemos seguir todas as determinações preconizadas pelas autoridades de saúde, sempre mantendo na mente os versos do líder da Legião Urbana: “mas é claro que o sol vai voltar amanhã. (…) Espera que o sol já vem”.
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