Há um sofá no meio do baldio
Fruto, por certo, da generosidade de um iguaçuense, que pensou nos transeuntes cansados.
* Claudio Dalla Benetta
A princípio, a gente estranha. Um sofá de dois lugares à margem de um terreno baldio? Por que será?
Depois, passamos a pensar e chegamos à conclusão óbvia: ele está ali por causa de uma alma gentil e caridosa, que pensa mais nos outros do que em si mesma.
O cidadão de boa conduta, vendo que em casa havia um sofá já sem uso, substituído por outro mais moderno, não pensou duas vezes: com a ajuda da esposa, colocou-o na caminhonete e procurou o melhor lugar para deixá-lo.
Viram, então, o terreno baldio. Ele e a esposa desceram o sofá do carro e, sem sequer olhar para os lados, seguiram em frente, felizes com a boa ação.
No caminho de volta à casa, eles até conversaram sobre isso.
– Quantas pessoas cansadas vão passar por esta rua e, como num sonho, perceberão que há um sofá para poderem mitigar o cansaço – diz o marido.
– E pensar que a gente poderia simplesmente ter jogado no lixo, descartado, não é mesmo? – diz a mulher.
– Mas é preciso pensar nos outros, querida. Naqueles que perambulam pela periferia de Foz, caminhantes solitários que não têm onde se sentar, quando o cansaço derruba.
– É verdade – diz ela, enquanto joga pela janela do carro o que sobrou do sorvete e da pipoca.
E seguem os dois, rumo ao lar, cheios de amor ao próximo.
Ficou no terreno baldio – já se passaram algumas semanas – a marca de sua bondade. O dono do terreno passou máquinas para cortar o mato alto, mas deixou o sofá, felizmente.
Antes de passarem as máquinas, havia ali no solo, perto do sofá, muitas bitucas de cigarros e de maconha, além de garrafas e latas de cerveja. Prova de que o sofá está sendo usado, como sonhou o casal.
Que gesto bonito e nobre!
Atenção, leitor: texto contém ironia pra disfarçar a raiva. O sofá em questão pode ser apreciado próximo a uma área verde e de um loteamento no Jardim Iguaçu.
* Claudio Dalla Benetta é jornalista em Foz do Iguaçu
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