Êxodo contínuo: como Foz do Iguaçu pode “segurar” seus jovens?
Pesquisa revela que 34% dos iguaçuenses pensam ou têm algum parente que planeja deixar a cidade.
De 2010 para 2019, a população de Foz do Iguaçu cresceu apenas 0,95%, segundo dados do Ipardes. Isto significa que não foi reposto sequer o número de pessoas que morrem anualmente. A cidade minguou.
O pior é que este êxodo da população se dá na faixa mais jovem, como se vê pelos dados coletados pelo matemático e físico Luiz Carlos Kossar, especialista em estatística e pesquisas de opinião.
O número de eleitores com idades entre 16 e 24 anos diminuiu 12,6% em 2018, na comparação com 2010, como registra o Tribunal Superior Eleitoral. Entre 24 e 44 anos, a redução também foi elevada, de 11,83%. O crescimento das faixas de mais idade (9,25% dos eleitores de 45 a 59 anos e 20,88% de aumento no número de eleitores com mais de 60 anos) não bastou para tornar o total positivo: em 2018, Foz tinha 3,10% menos eleitores que em 2010.
Em números absolutos, entre 2010 e 2018, Foz teve uma redução de 4.113 eleitores na faixa entre 16 e 24 anos e de 10.166 eleitores com idades entre 25 e 44 anos.
Uma pesquisa feita por Kossar, em junho deste ano, revelou que 34% dos entrevistados planejava ou tinha alguém de sua família que pretendia ir embora de Foz do Iguaçu.
Os que foram ou querem ir embora “são os jovens e adultos (…), exatamente a população em idade produtiva”, destaca Kossar, baseado no decréscimo de eleitores nas faixas entre 16 e 24 anos.
Para o matemático, a explicação para este êxodo é simples: “a falta de uma política geradora de emprego e renda”.
Moradias
Em seu trabalho, Kossar também mostra o aumento do número de residências, em Foz do Iguaçu, e a diminuição dos moradores em cada uma dessas residências, em 2010 e e em 1019.
Em 2010, Foz do Iguaçu contava com 79.710 residências. Elas eram habitadas, em média, por 3,21 pessoas, já que a população da cidade, naquele ano, era de 256.088 habitantes.
Em 2019, o número de residências aumentou para 96.350, um acréscimo de 20,88%. Já o número de moradores por residência baixou para a média de 2,66, uma queda de 17,20%.
Comparação
O matemático compara os números de Foz do Iguaçu com as outras 17 cidades que têm mais de 100 mil habitantes, no Paraná. E o comparativo assusta.
Foz foi a cidade com o menor crescimento populacional, no período entre 2010 e 2018, e foi a única que teve uma redução no número de eleitores.
No comparativo sobre o número de moradores por residência, Foz ficou no penúltimo lugar. A média daqui, 2,66 habitantes por residência, só foi superior à de Umuarama (2,65).
Pra ficar só num exemplo, peguemos Cascavel, a mais próxima de nós. A cidade, entre 2010 e 2018, viu crescer em 13,37% o número de habitantes e em 12,61% o de eleitores.
O número de moradores por residência também diminuiu, de 3,14 para a média de 2,68, fenômeno que ocorreu em todas as cidades com mais de 100 mil habitantes, o que se explica pelo aumento do número de moradias e, claro, porque os casais têm hoje menos filhos.
As cidades paranaenses com mais de 100 mil habitantes são: Curitiba (1,91 milhão), Londrina (563.943), Maringá (417.010), Ponta Grossa (348.043), Cascavel (324.476), São José dos Pinhais (317.476), Foz do Iguaçu (258.823), Colombo (240.840), Guarapuava (180.334), Paranaguá (153.666), Araucária (141.410), Toledo (138.572), Apucarana (133.726), Pinhais (130.789), Campo Largo (130.091), Arapongas (121.198), Almirante Tamandaré (117.168) e Umuarama (110.590).
O que fazer?
Luiz Kossar, com esses números, traz um alerta: é possível evitar o êxodo de jovens, que certamente saem da cidade em busca de melhores empregos e oportunidades?
O que Foz pode fazer? Uma coisa é certa. O turismo, com a vinda prevista de mais estrangeiros e com o funcionamento de lojas francas, que vão atrair mais brasileiros, pode contribuir bastante.
E, nesse sentido, torna-se ainda mais importante uma iniciativa como o projeto Trilha Jovem Iguassu, que prepara jovens para o mercado de trabalho no setor de turismo.
Mas tudo o que o setor pode oferecer talvez não seja suficiente para absorver o tanto de jovens que se formam nos cursos oferecidos pela Unioeste, Unila e instituições particulares. É muita gente.
Voltaremos ao assunto.