As Cataratas no documentário da Netflix: 53 segundos e duas frases

Mas o documentário é fantástico. E mostra que, na natureza, o grande mistério são as conexões. Inclusive nas Cataratas.

Sorte das Cataratas do Iguaçu que foram escolhidas pela Netflix para divulgar a estreia do documentário “Our Planet” (Nosso Planeta), uma produção britânica no ar desde sexta-feira, dia 5 – inclusive no Brasil. 

Na estreia, a rede de televisão americana ABC trouxe reportagens ao vivo das Cataratas, no lado argentino, divulgando as maravilhas que a Argentina divide com o Brasil (veja a matéria do H2FOZ clicando aqui 

Uma pena que, no documentário, as Cataratas do Iguaçu – mostradas em imagens belíssimas -, tenha ganhom meros 50 segundos, no episódio 7, intitulado “Água Doce”.

Dá até pra reproduzir todo o texto do comentário sobre as Cataratas: 

Iguaçu – Essas são as maiores quedas de água do mundo. 
Milhares de toneladas de água jorram delas a cada segundo.
A maior parte da água de I
guaçu vem da Floresta Amazônica, a mil quilômetros de distância.

A imagem das Cataratas se funde com a da Floresta Amazônica.

Pra quem não entendeu o objetivo da série – ou pra quem não acompanhou desde os primeiros episódios-, ficou a impressão de que as Cataratas se formam na Amazônia. Parece até aquele filme hollywoodiano em que o herói está na selva amazônica e, a certa altura, desce de barco as correntezas do Rio Iguaçu até o vilão despencar nas Cataratas.

Mas existe uma palavra que vai explicar a série toda: “conexões”.

As conexões

Pro exemplo que ficou mais claro. Um dos desertos da Austrália, o mais árido do mundo, a cada dez anos é alagado. As águas das monções numa região a a 2 mil quilômetros de distância vão se espalhando pela planície até alagar o deserto inteiro. A cada dez anos, hein?

As águas trazem junto peixes. E, não se sabe explicar como, uma espécie de pássaros sabe exatamente que é hora de migrar para o deserto, onde terão alimento em abundância e poderão procriar e criar os filhotes. Mas é preciso agir no tempo certo. O deserto voltará a virar sal e as aves terão que migrar 500 km – caminhando, os filhotes ainda não voam – para seguir em frente o tempo que lhes resta no planeta. 

Isto é uma conexão da natureza. As monções alagam o deserto, que recebe e multiplica a vida.

E as Cataratas com a Amazônia? A conexão existe, mas, claro, é um pouco mais sutil. Na verdade, a floresta amazônica garante o equilíbrio do clima no Centro-Sul do Brasil.

As chuvas intensas na Amazônia, aliadas ao calor, provocam uma evapotranspiração intensa da floresta, formando massas úmidas em grandes quantidades que se deslocam na orientação norte-sul da Cordilheira dos Andes. 

A cordilheira impede a passagem dessas massas, que se espalham então pelo Centro-Sul e também são “exportadas” para o Caribe e o Oceano Pacífico, o que coloca a Floresta Amazônica em condição de grande importância mundial quanto a sua influência no regime de chuvas sobre uma grande extensão territorial da América Latina.

Quando há uma grande seca no Sudeste e no Sul, obviamente isso irá afetar as Cataratas do Iguaçu. O Rio Iguaçu nasce na Serra do Mar, região de mata atlântica que é também influenciada pelas massas úmidas provenientes da Amazônia.

Assim se explica a frase do documentário, que ainda assim poderia ser um pouco mais explícito naquele trecho.

Sinopse

Sobre o documentário, vale a pena ler a sinopse apresentada pela Netflix, traduzida (como foi possível) do site britânico Eco-Age.

Antes disso, o site comentou: 

“Narrado por Sir David Attenborough, a nova série de oito episódios 'Nosso Planeta' está agora fluindo na Netflix e, como você poderia esperar, é uma festa para os olhos. Mas também é mais que isso. Com a conservação no centro de cada tomada, com o impacto humano em nosso planeta à frente e no centro da narrativa, o documentário fornece um aviso gritante de que a hora de agir é agora.”

Agora, sim, a sinopse da Netflix:

“O ambicioso projeto de quatro anos foi filmado em 50 países em todos os continentes. Mais de 600 pessoas participaram de mais de 3.500 dias de filmagem, feitas na amplitude da diversidade de habitats ao redor o mundo, do remoto deserto ártico e misteriosos oceanos profundos às vastas paisagens da África e diversas selvas da América do Sul.

Nos últimos 50 anos, as populações de animais selvagens diminuíram, em média, 60%. Pela primeira vez na história humana, a estabilidade da natureza não pode ser tomada como garantida. 

A natureza é resiliente, as grandes riquezas ainda permanecem, e, com a nossa ajuda, o planeta pode se recuperar.

Em lugares onde a chuva cai abundantemente ao longo do ano, as florestas crescem. E, no calor dos trópicos, as florestas suportam uma riqueza de vida incomparável. Nelas vive a metade de todas as espécies de todos os animais terrestres. A diversidade de folhas é de tirar o fôlego.

As plantas geralmente dependem de animais para polinizar suas flores. E essas conexões íntimas são tão importantes quanto as grandes globais.

Em apenas 70 anos, as coisas mudaram em um ritmo assustador. As regiões polares estão aquecendo mais rápido que qualquer outra parte do planeta. O Ártico, no norte, é um oceano congelado, e o gelo marinho, do qual depende toda a vida aqui, está desaparecendo.

Dentro de 20 minutos, 75 milhões de toneladas de gelo se libertam. As geleiras sempre lançaram gelo no oceano, mas isso está acontecendo quase duas vezes mais rápido do que há dez anos.

Por todo o nosso planeta, conexões cruciais estão sendo interrompidas. A estabilidade que nós e toda a vida da terra dependemos está sendo perdida. O que fizermos nos próximos 20 anos determinará o futuro de toda a vida na Terra.”
 

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