A (cara) aventura de viajar de Foz a Curitiba de carro
E ainda é opção razoável, com o preço das passagens aéreas nas alturas (sem trocadilho).
Cláudio Dalla Benetta
De avião, já sabe: mesmo programando com alguma antecedência, dificilmente você vai encontrar uma passagem de Foz a Curitiba por preço inferior a R$ 600.
De ônibus comum, custa pouco menos de R$ 200. Mais de nove horas de viagem, com conforto mínimo.
E de carro? Dá uns R$ 350, considerando combustível e pedágios, mas tem a vantagem de que você estará com o veículo no destino.
Mas a viagem, ah, viajar pela BR-277, é sempre uma aventura, não importa se chove, faz sol ou a época do ano.
O tráfego é sempre difícil em todo o trecho que não é duplicado. Difícil, perigoso e demorado.
Em direção a Curitiba, ao sair de Matelândia, já começam os problemas, com pista única que, ainda por cima, está em obras de reparos em alguns trechos.
Isso significa que, se você tiver azar, vai ter que ficar numa fila até esperar os veículos do lado oposto passarem pela obra e chegar a vez do “seu lado”. Dez minutos, no mínimo, repetidos em dois locais até Guarapuava.
Mais uma parada semelhante no trecho entre Irati e a BR-376, última etapa na viagem a Curitiba.
A viagem se prolonga por pelo menos mais meia hora, o que irrita os motoristas. E motorista irritado geralmente comete imprudências, como dirigir em velocidade muito superior à permitida e fazer ultrapassagens imprudentes (ou em locais proibidos).
Porque as filas de caminhões, inclusive as provocadas por essas paradas inesperadas, representam também muito mais tempo perdido. Até ultrapassar os comboios, o motorista tem que ter paciência e suportar ir a 60, 40, 30 km por hora por vários quilômetros. Depois das ultrapassagens, acelera alegremente e… dá de cara com outro comboio.
A consequência, às vezes, você percebe no próprio dia em que viaja, com algum capotamento ou até colisões graves.
Por que não duplicar?
Até é de se perguntar: o dinheiro investido nesses trabalhos de reparo da pista única não seria melhor empregado na duplicação? A gente aguentaria os buracos por um ano, se tivesse certeza de que, ao final disso, teríamos – aí, sim – uma rodovia mais segura.
Quando se sabe que houve acordos espúrios pra fixar as tarifas do pedágio, reconhecidas pela Justiça, que obrigou pelo menos a Rodonorte a baixar em até 30% os preços, qualquer um fica revoltado ao trafegar em pista única, perigosa e sujeito a ficar na boleia por muito mais tempo que imaginava.
Radar (nem sempre) à vista
Depois, tem os radares. Muitos com placas de alerta sobre a presença deles, outros instalados apenas para multar. Difícil, pra quem viaja pouco no trecho, ter certeza de que alguns dias depois do retorno não receberá uma “surpresinha” da Polícia Rodoviária Federal.
E tem agora o que parecem ser radares: de um lado, um poste com uma caixa metálica no alto; do outro, um poste com o que pode ser a câmera. Ou não. Mas não há motorista que não reduza a velocidade, mesmo sem saber o que é.
Baixaram!
Ah, sim, a única ligeira compensação de uma viagem entre Foz e Curitiba (e vice-versa) é saber que pelo menos três pedágios, dos dez que a gente aguenta, estão menos caros. Dois deles, entre Irati e a BR-376, ficaram 30% mais baratos (agora, custam entre R$ 8,10 e R$ 8,90). E no outro, já na BR-376, em São Luiz do Purunã, paga-se agora R$ 6,10.
Valores muito altos perto do que é cobrado (pra ficar só no Paraná) nos pedágios da BR-116 (R$ 3,20), mas bem mais razoáveis do que a Concessionária Ecocataratas cobra: R$ 10,20, em Relógio; R$ 13,50 em Candói, Laranjeiras do Sul e Cascavel; R$ 12,50, em Céu Azul; e astronômicos R$ 16,40 em São Miguel do Iguaçu.
Mesmo que você volte sem nenhuma multa e com a consciência sossegada por ter dirigido dentro das normas, a viagem deixa sempre como lembrança o sabor amargo de ser extorquido nos pedágios e uma certa satisfação por sobreviver à aventura.