Foz do Iguaçu, uma cidade dividida

O contraste social e econômico faz de Foz do Iguaçu uma cidade marcante para os que a visitam, realidade diferente para os que nela vivem

Foz do Iguaçu acaba de completar 107 anos. Realmente temos muito o que comemorar nos últimos anos. Antes da pandemia, o número de visitantes vinha crescendo de forma considerável, atrativos turísticos surgiram com novidades que nenhum outro lugar do mundo possui, obras estruturantes em vários pontos, trazendo agilidade e satisfação. A cidade é reconhecida mundialmente pelas belezas naturais e grandes estruturas como a hidrelétrica de Itaipu.

Embora toda essa satisfação e alegria por prêmios e reconhecimentos mundiais, parte da sua população não consegue ser alcançada por esses grandes eventos.

A cidade que traz milhões de pessoas anualmente, pelas suas belezas naturais, vê grande parte da sociedade calada quando um de seus políticos eleitos propõe a reabertura da Estrada do Colono dentro da Mata Atlântica, fechada há mais de 20 anos.

O município que propõe a construção de um bairro inteligente é o mesmo que abriga a maior ocupação urbana do Paraná, onde mais de seis mil pessoas sofrem com falta de regularização fundiária, esperando resposta do poder público.

Ocupação Bubas, é a maior ocupação urbana do Paraná – Foto: Marcos Labanca

Nesta semana também vimos que a cidade está em destaque no ranking de processo da universalização do saneamento básico. Possui áreas afastadas do centro, como é o caso da região do Porto Belo, e bairros centrais, a poucas quadras da prefeitura, que ainda sofrem com falta de saneamento, onde parte de seus dejetos sanitários é jogada diretamente nos rios. Sim, nos mesmos rios que fazem parte da vida da gente, que embelezam a nossa cidade e nos abastecem de água.

 

Esgoto a céu aberto, Jardim Primavera antica Favela da Mosca – Foto: Marcos Labanca

A cidade que tem ônibus específicos de visitação aos pontos turísticos é a mesma que deixa seu povo debaixo de sol e chuva, pela precariedade dos pontos de parada, pela demora, em que usuários – como em latas de sardinha humana – se apertam para chegar na hora certa ao trabalho, ou chegar cedo em casa após o trabalho, e poder descansar para o outro dia.

A triste situação dos usuários que usam o transporte público – Foto: Marcos Labanca

Apontada em 2016 pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) como pioneira no turismo de inclusão, as pessoas com deficiências físicas que aqui vivem têm grandes dificuldades de locomoção, pela pouca quantidade e má qualidade do transporte público adequado e pela dificuldade de caminhar pelas calçadas. Até mesmo as novas estruturas e praças recém-construídas carecem de acessibilidade.

Calçadas na Rua Tietê com Avenida João Paulo II – Região Central – Foto: Carlos Sosa

O que queremos apontar é que uma cidade, antes de ser reconhecida pelos que a visitam, deve ser reconhecida pelos que nela vivem. Quando elevamos a qualidade de vida dos que mais precisam, toda a cadeia econômica próspera.

É preciso discutir a cidade com aqueles que mais sofrem e mais precisam, e a partir daí começar as mudanças estruturais, mapeando e discutindo com a população as suas necessidades – deixando de lado o compadrio político e interesses eleitorais; e, de forma democrática com todos os segmentos sociais, resolver cada uma delas.

Até mesmo porque a maior riqueza de uma cidade é sua gente, sua cultura, sua diversidade e seu lindo sorriso, e isso Foz tem muito a oferecer.

Dona Chica: “Minha maior alegria é ajudar as crianças” Foto: Marcos Labanca

 

* Amilton Farias é jornalista e colaborador do H2FOZ 

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