Eu quero é mais cidadania na rua. Ou há quem diga que você fugiu da briga

Deputado embalou a truculência, promotoria recomendou, e faixa de pedestre colorida é apagada pela prefeitura em poucos dias. E o debate sobre políticas públicas efetivas?

Deputado embalou a truculência, promotoria recomendou, e faixa de pedestre colorida é apagada pela prefeitura em poucos dias. E o debate sobre políticas públicas efetivas?

Eis que a Prefeitura de Foz do Iguaçu replica a ideia de colorir uma faixa de pedestre e é questionada por parte da comunidade – como era esperado. O governo é convidado a restaurar a “ordem”. Diferentemente do barulho feito no lançamento da pintura, corre de forma silenciosa para deixar tudo de cinza de novo, para o bem daqueles incomodados pelo momentâneo arco-íris.

Vamos aos fatos. Colorir faixas de pedestres em apoio ao Dia Nacional da Visibilidade Trans é uma prática antiga e registrada em diferentes cidades brasileiras. Ano após ano ocorrem reações favoráveis e contrárias, o que reforça a necessidade de defender de verdade o debate sobre respeito e direitos. Do contrário, é oportunismo, ainda mais em anos eleitorais.

No dia 24 de janeiro, a Prefeitura de Foz anunciou: “Ação da Secretaria Municipal de Direitos Humanos na região central da cidade tem como objetivo despertar a reflexão sobre o respeito à comunidade LGBTI+”. Mais adiante a matéria oficial sustenta que a ação “é permitida, sim!” e que iria durar 90 dias. Mas o colorido no asfalto resistiu apenas míseros 17 dias.

Motivado por deputado de quinta classe, o Ministério Público do Paraná recomendou (repito, apenas recomendou) a remoção da “pintura extravagante” (oi?) e o fim de “intervenções heterodoxas” (hello?). A mesma prefeitura esqueceu tudo o que tinha defendido, dias atrás, como dentro da lei e pintou tudo de cinza no último dia 9. A reação do MPE era esperada. Do governo Chico Brasileiro, não. Ou talvez deveria ser.

É disso que eu preciso ou não é nada disso

A recomendação da promotoria foi recebida sem resistência alguma por parte da prefeitura – ao menos desconheço alguma explicação pública. A faixa de pedestre na Rua Benjamin Constant teve seus 15 minutos de fama e fez brilhar os ocupantes do Palácio das Cataratas pelo tempo necessário para angariar novos simpatizantes governistas.

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As pinçadas cinzentas do Foztrans, autarquia da prefeitura, destoam das palavras da secretária municipal de Direitos Humanos e Relações com a Comunidade, Kelyn Trento, ao anunciar a pintura: a “administração pública do município está junto nesta causa”. Como se vê, não é bem assim. De quem é a gestão dentro do Poder Executivo municipal?

Só ficou na pista “tristeza e tinta fresca”. Muito pouco para quem tem uma Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Relações com a Comunidade, um reduto de partidários do governo, independentemente do matiz ideológico, que foi ocupada por Rosa Maria Jeronymo Lima no primeiro mandato de Chico Brasileiro e que parece receber até hoje influência da atual secretária municipal de Saúde.

O resultado parcial disso tudo? O silêncio da “prefa” soa como abandono dos defensores dos direitos humanos e empodera os “legalistas das leis de trânsito” e preconceituosos. De um lado, a sensação de vitória explícita nas conversas da família, nas redes sociais e no WhatsApp. Do outro lado, o sentimento de revolta e derrota momentânea.

Do poder público reivindicamos políticas públicas permanentes e efetivas em defesa da cidadania das pessoas travestis, transexuais (homens e mulheres trans) e não binárias (que não se reconhecem nem como homens, nem como mulheres) e de toda comunidade LGBTI+. Ou pelo menos pouco de criatividade e ousadia para driblar as esperadas adversidades e defender na real a cidadania no debate público.

* Alexandre Palmar é jornalista em Foz do Iguaçu.

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A faixa é passageira. Um pouco mais de Sérgio Sampaio para todos.

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