Unila desenvolve pesquisa para transformar azeite em sabão

Iniciativa também envolve resíduos da destilação de vinho. Objetivo é dar uma correta destinação a produtos apreendidos e doados pela Receita Federal.

Em junho, a Polícia Federal (PF) e a Receita Federal do Brasil (RFB) desencadearam a Operação Vale Velho. A ação tirou de circulação mais de dois mil litros de azeite considerado irregular pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Parte dessas apreensões foi parar na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), quem vem desenvolvendo uma pesquisa para dar uma nova destinação, ecológica e sustentável, ao produto.

Na pesquisa desenvolvida no Laboratório de Tecnologias e Processos Sustentáveis, além do azeite, resíduos da destilação de vinho e ácido esteárico (obtido da palma) são transformados em sabão multiúso. O trabalho, que mistura técnica, tempo e paciência, é realizado em uma batedeira doméstica por Luisa Parra Sierra, bolsista-técnica de nível superior da Fundação Araucária, que atua no laboratório.

Os materiais que são utilizados na pesquisa foram doados pela Receita Federal, totalizando 300 litros de vinho e 50 litros de azeite. O resíduo de vinho – ou vinhaça – utilizado na fabricação do sabão é “aproveitamento do aproveitamento”. Ele é resultado da destilação da bebida para obtenção de etanol, que depois é diluído e transformado em álcool para limpeza e desinfecção de laboratórios na Unila.

Além de sabão, o azeite também está sendo usado para a fabricação de velas, produto que ainda está sendo formatado. “Queremos aproveitar 100% dos resíduos que a Receita está nos doando”, comenta a docente de Química e do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Energia e Sustentabilidade, Caroline Gonçalves. “O laboratório também acaba produzindo muitos resíduos, como a vinhaça, e não queremos que sejam descartados no ambiente. Uma solução é a transformação em outros produtos ecologicamente corretos e sustentáveis”, completa.

O projeto foi iniciado em janeiro, com testes e provas de qualidade, e a produção em escala começou em maio. Até o momento, Luisa fabricou 350 unidades de sabão. Parte dessa produção será destinada à Receita, outra irá para unidades da Unila, mas a intenção é que a maior parte do material possa ser doada a pessoas com dificuldades financeiras para a obtenção de produtos de limpeza.

Azeite apreendido

Chegar ao produto final demandou muitos testes. O azeite apreendido não atende às especificações da Anvisa. Análises de cromatografia, comenta Luisa, mostraram que o produto apreendido é, na verdade, uma mistura de diferentes óleos – como de soja, de girassol e, em quantidades mínimas, de oliva. “A gente demorou aproximadamente dois meses para conseguir a receita correta porque, como é uma mistura de óleos, cada um tem um índice de saponificação diferente”, explica a bolsista. 

Cada lote produzido passa por testes físicos e químicos. “O sabão está atendendo os requisitos de qualidade exigidos pela Anvisa, mesmo que o produto esteja sendo fabricado em âmbito de pesquisa”, diz Luisa. Entre esses requisitos estão o indicador de pH, que deve ser menor que 11. No caso, o sabão multiúso está em 10, padrão na indústria de limpeza. 

O tempo de produção do produto leva de 30 a 40 dias, a maior parte destinada à cura. Depois de processado na batedeira, o sabão é despejado em fôrmas de silicone, as quais são colocadas em estufas até que o processo de saponificação esteja concluído e o produto apresente a característica ideal para ser usado. Pronto, o sabão passa por uma bateria de testes. “No momento, esse sabão não é recomendado como desinfetante. Não é antisséptico, mas pode ser usado para limpeza em geral.” 

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