Moradora do Jardim Universitário II, a acadêmica Fernanda Diniz (26) reclama da operação e do atendimento no serviço de transporte coletivo de Foz do Iguaçu. Demora para recadastrar e fazer a recarga na central da empresa, cobrança de taxa para pagamento via Pix, integração e ausência de linhas à noite são alguns pontos.
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Ao H2FOZ, disse que os serviços da operadora do transporte coletivo, sob concessão da Prefeitura de Foz do Iguaçu, “devem ser repensados partindo das necessidades da população”. Para ela, muitos “procedimentos não fazem sentido”, destacou a estudante universitária.
A passageira relatou que precisou ir duas vezes à empresa, junto ao terminal, para recadastrar-se como estudante e recarregar o cartão, o que provocou transtorno no seu trabalho. “A primeira vez foi quando peguei a senha ‘errada’ e não pude esperar mais para obter a de atualização. Voltei uns dias depois e esperei mais ainda”, contou.
Para conseguir fazer o procedimento, ela teve de aguardar por duas horas. “Tive de justificar meu atraso no trabalho, inclusive. Quando saí [do Centro de Informações e Cadastro], ainda tinha gente lá. Acredito que com a volta às aulas e o despreparo da empresa essa situação vai se repetir por algum tempo”, previu.
A atualização de cadastro foi considerada nula por Fernanda. “Não me fizeram nenhum tipo de pergunta, não colheram nenhum dado que poderia ser atualizado, o que me deixou ainda mais frustrada porque foi um tempo perdido que facilmente poderia ter sido evitado se existisse uma opção on-line para o procedimento”, cobrou.
“Então, não entendo que atualização é essa ou para que serve. Talvez pra comprovar que não morri”, ironizou, cobrando atendimento mais dinâmico e ágil. Para a usuária do transporte coletivo, uma cidade do porte de Foz do Iguaçu não pode repetir situações como essa que ela enfrentou, que são “corriqueiras”, mencionou.
À reportagem, informou que questionou a empresa pelo fato de o estudante precisar enviar o comprovante de matrícula. “Não vejo sentido na atualização do cartão todo semestre, já que o comprovante escolar cumpre com sua função de comprovar o vínculo”, opinou Fernanda Diniz, do curso de Letras e Mediação Cultural da Unila.
Taxa no Pix e integração 100%
O sistema público de transporte coletivo cobra R$ 2 como taxa para cada pagamento de recarga feita pelo Pix. Conforme Fernanda, esse valor pode parecer pouco para quem pode adquirir todos os créditos que irá utilizar ao longo do mês, o que não é a realidade de muitas pessoas nem a sua, analisou.
“O Pix é gratuito, não vejo sentido na cobrança dessa taxa de serviço”, asseverou. “Parece pouco, mais se a pessoa fizer dez recargas no mês já dá R$ 20. É um valor baixo de usar uma vez no mês. Para isso, é preciso fazer uma recarga considerável, algo em torno de R$ 150 na média para usar nos 30 dias”, contabilizou.
Ela lembrou que R$ 2 de taxa correspondem a quase o valor de um passe-estudante, que hoje é de R$ 2,25. “Estou falando da realidade de pessoas na mesma condição financeira que a minha. Às vezes, não tenho R$ 150 para colocar em créditos e preciso comprá-los aos poucos”, narrou.
A usuária de ônibus também reivindicou a integração 100%, já que hoje quem paga a passagem com dinheiro não tem esse direito. “O terminal deixou de cumprir o papel de terminal. O que só piora, pois a integração não existe para quem usa o dinheiro em espécie”, protestou.
“Se eu não consigo fazer a recarga por algum motivo, tenho que gastar dinheiro”, exemplificou. “Na volta às aulas, quando não deu certo a recarga dos créditos na empresa, eu estava sem dinheiro físico, por isso tive de pagar Uber [transporte por aplicativo], me proporcionando um gasto que eu não contava”, revelou.
Ônibus à noite
Para Fernanda Diniz, os itinerários dos ônibus devem ser repensados de forma mais funcional e de acordo com as necessidades das pessoas que dependem de transporte coletivo. A estudante pediu a oferta de linhas à noite, considerando Foz do Iguaçu ser uma cidade turística e para que as pessoas possam ter mais acesso a lazer e cultura.
“Sendo Foz do Iguaçu uma cidade turística e tendo tantos hotéis, as pessoas trabalham em períodos diversos, inclusive à noite”, contextualizou. “Tantas pessoas saem de bairros distantes para o trabalho e não conseguem voltar à noite, de madrugada. A cidade precisa desse suporte por seu caráter turístico, e com segurança.”
Passe do estudante
Em suas ponderações sobre as deficiências do transporte coletivo em Foz do Iguaçu, Fernanda Diniz incluiu a necessidade de se repensar o alcance do passe estudantil. A acadêmica explicou que a redução do valor à meia passagem é para ir e vir da instituição de ensino, mas as demandas dos estudantes vão além disso.
“Se eu preciso ir até o centro ou outro lugar para fazer um estudo ou pesquisa, ou seja, me locomover na cidade, já perco a redução e a passagem é cobrada integralmente. Estudante não vive só do estudo”, refletiu. “Em um período mais curto, até tem a integração, mas para itinerários distantes isso acaba não ocorrendo”, relatou.
Sua experiência no transporte coletivo a levou a planejar um diagnóstico de como o serviço afeta o exercício dos diretos culturais da população. “Como estudante de Letras e Mediação Cultural, tenho a intenção de fazer uma pesquisa sobre como essas deficiências afetam o sentido cultural”, adiantou.
Nesse estudo, espera aferir “como o transporte coletivo muitas vezes inviabiliza as pessoas de frequentarem evento culturais ou irem às Cataratas a lazer, por exemplo”, concluiu Fernanda Diniz. Falta de linhas e horários adequados e problemas de integração são citados por ela como algumas possibilidades que podem afastar o morador de uma vida social mais intensa.
O que diz a prefeitura
Responsável pela oferta de transporte público no município, a prefeitura respondeu em nota aos questionamentos da reportagem, reunidos a partir das demandas da passageira Fernanda Diniz. As respostas seguem na íntegra:
Demora para cadastramento e recarga
1) Em relação ao caso mencionado o Foztrans esclarece que necessita de mais informações para verificar o motivo em específico que a passageira foi por duas vezes na central. As equipes da central são ampliadas nestas épocas de recadastramentos para dar mais agilidade aos atendimentos. Foram feitas mais de 3 mil atualizações e o atendimento já está sendo normalizado.
Agilidade na atualização
2) O comprovante de matrícula é solicitado para a atualização. Pelo sistema atual, é necessário fazer a gravação do cartão com o atendente. Isso é feito na hora do atendimento, não sendo viável envio prévio da documentação.
Orientação aos usuários que vão à central
3) Na central, existe um atendente que retira as senhas e faz uma checagem prévia da documentação. Caso esteja tudo correto, faz a emissão da senha. Existe a possibilidade do atendente ter se ausentado no momento em que a passageira procurou a central, mas os demais atendentes de cadastramento também estão aptos para essas orientações.
Recadastramento semestral
4) Todo semestre deve ser feito recadastramento do benefício do cartão estudante. Isso é uma revalidação necessária para usufruir do benefício, justamente pra verificar se o aluno ainda está frequentando a escola.
Cobrança da taxa de R$ 2
5) Sim, o carregamento por chatbot é cobrado, valor de R$ 2 por transação. Este recurso é um custo de manutenção do serviço.
Falta de integração no dinheiro
6) O Foztrans esclarece que o tempo da integração temporal passou de 60 para 90 minutos há mais de um ano, tempo necessário para que o passageiro embarque em outra linha sem pagar mais uma passagem, fazendo o uso da integração. Este recurso pode ser utilizado em qualquer ponto da cidade, não apenas no TTU.
Passe do estudante
7) Os créditos são liberados para compra de acordo com o período que está na declaração escolar. Se for integral são liberado 4 passes; se for apenas 1 turno, são liberados 2 passes diários (ida e volta). Caso o aluno comprove efetivamente deslocamento em algum dia da semana específico que utilize mais que duas passagens, também é feita a liberação.
Previsão de linhas noturnas
8) Pretendemos sim [instituir novas linhas], após março, quando inicia a nova contratação do transporte coletivo urbano de Foz, ampliar as linhas inclusive no período noturno.
Que vergonha essas respostas da FozTrans.
1. Não nos interessa saber a quantidade de recadastramento/atualizações realizadas e sim a experiência individual, que é o transtorno de ficar indo e vindo até o centro pra resolver.
2. Essa atualização seria perfeitamente possível via digital, além de que deveria haver horário diferenciado para tal, que horas um estudante que trabalha durante o dia e estuda a noite vai realizar isso ou um trabalhador que está ocupado no horário comercial?
3. O dia que fui não tinha esse atendente mas senhas inclusive gerando confusão entre idosos. 5 atendentes se não me engano, isso é o aumento? Nem cabiam as pessoas lá dentro do recinto, quando você então nem se fala.
4. Sem contar que essa atualização e recadastramento deveria dar uma ida e volta sem cobrança.
5. Taxa de recarga no pix, acho bem abusivo isso, me parece uma forma de lucrar, como se estivesse vendendo um produto.
6. Excelente que a integração atual seja de 90 minutos mas não respondeu ao questionamento de não existir integração para quem paga em dinheiro na hora. É bem incoerente que quem pague mais caro tenha menos benefício.
7. Explicou como funciona o desconto para estudantes mas não respondeu ao questionamento da passageira.
8. É bem estranho mesmo que os trabalhadores que servem a população e os turistas não tenham escolhas para sua locomoção no transporte público, recorrendo a transporte privado muitas vezes e que tem custo bem elevado para isso frequente.
Falo, falo e falo e não disse nada.
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FOZTRANS É UMA VERGONHA, SERVIÇO DE MERDA
Excelente matéria, mas que vergonha Foztrans! Foram apresentados diversos pontos sobre a realidade de quem utiliza o serviço de transporte e a empresa não se prontificou em momento algum a solucioná-los. Falou falou falou e não disse nada