Antes da construção de Itaipu, Ciudad del Este era menor que Foz.
Uma encolhe, outra cresce aceleradamente. Como se explica que isso aconteça em cidades gêmeas de dois países vizinhos, vivendo situações quase semelhantes?
As reportagens sobre a projeção do IBGE para a queda na população de Foz, este ano, chamou a atenção também da imprensa paraguaia. O La Clave destacou: “A população de Foz do Iguaçu se estanca e a de CDE registra um grande crescimento”.
Há razão para espanto? Talvez sim, mas é preciso considerar os fatores em comum e os que diferenciam Foz da cidade vizinha.
DO INÍCIO ATÉ AGORA
Aos números iniciais. No início da construção da usina de Itaipu, em 1975, Foz do Iguaçu tinha 33.970 moradores; Ciudad del Este (que então se chamava Porto Presidente Stroessner), no censo de 1972, era habitada por 26.486 pessoas.
Isto é, eram muito semelhantes em população.
Em 2021, a projeção do IBGE indica para Foz exatos 256.971 habitantes, enquanto Ciudad del Este, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas do Paraguai, teria 415.748 moradores.
Isto é, Ciudad del Este é hoje 61,7% mais habitada que Foz do Iguaçu.
FOZ FOI MAIOR
Voltando nos anos, vê-se um fenômeno curioso: no ano 2000, o censo do IBGE mostrava Foz com 258.543 habitantes. Em Ciudad del Este, o número era menor: 227.709 moradores.
Nos 10 anos seguintes, no entanto, a situação se inverteu: o censo de 2020 registrou uma queda de 1% em Foz, que passou a ter 256.088 moradores.
Em Ciudad del Este, ao contrário, houve um aumento de 53%, e a cidade passou a 349.347 habitantes.
De 2010 à projeção para 2021, a população de Foz cresceu 0,7% (somos agora 257.971 iguaçuenses).
A de Ciudad del Este aumentou nada menos que 19%, e agora a cidade vizinha tem 415.746 habitantes.
FUTURO
Uma projeção feita por outro instituto, o paranaense Ipardes, para todos os municípios do Estado, revela que Foz do Iguaçu tem mesmo tendência a perder moradores.
Mas, se confirmada essa premissa, a perda pode ser maior ainda do que a estimada pelo Ipardes.
O instituto baseou-se numa projeção de 264.953 iguaçuenses em 2020. Em 2030, este número seria de 265.575 pessoas. Como em 2020 éramos menos (258.248), quantos seremos, então, em 2030?
E em 2040? Porque a projeção do Ipardes indica nova queda na década seguinte.
Já Ciudad del Este tem uma previsão de crescer quase 6% nos próximos quatro anos. Dos atuais 416.748 para 439.294, segundo o Instituto Nacional de Estatística.
DIFERENÇAS
Não é muito difícil entender que houve mudanças nas duas cidades, que impactaram o crescimento populacional ao longo dos últimos anos, depois da construção de Itaipu.
Ciudad del Este, até poucos anos atrás, era um dos centros comerciais mais importantes do mundo, atraindo milhares de compradores brasileiros. O comércio continua forte, embora tenha perdido poder por conta de dólar alto e incertezas na economia brasileira.
A criação da zona franca, na então cidade de Presidente Stroessner, em 1960, foi um chute certeiro do governo paraguaio. Quando a construção de Itaipu terminou, já havia um forte comércio gerando divisas e empregos. E, também, problemas.
Artigo publicado pelo Idesf (Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras lembra que, quando a zona franca foi criada, o diplomata Gomes Pereira reportou ao Itamarati que se tratava de um “centro de contrabando em larga escala para o Brasil”.
Ainda é, mesmo com a criação de shoppings e lojas para atrair a classe média brasileira e afastar os sacoleiros, que também se aproveitavam da liberalidade do governo brasileiro, de todos os tempos.
INDÚSTRIAS
Mas Ciudad del Este também soube atrair indústrias, principalmente brasileiras, que passaram a produzir no Paraguai ou a substituir compras na China para adquirir de empresas instaladas com vantagens da Lei da Maquila paraguaia.
Mesmo tendo perdido a corrida industrial, o Paraguai ficou com algumas sobras que, para um país pequeno, com população pouco superior a 7 milhões de habitantes, são fundamentais.
É assim que o Paraguai fornece ao Brasil e à Argentina, principalmente, autopeças, roupas, sapatos e materiais plásticos, entre outros.
ENSINO SUPERIOR
Junto com tudo isso, Ciudad del Este aproveitou outra oportunidade: oferecer cursos superiores sem necessidade de prestar vestibular, contando que haveria milhares de interessados brasileiros. E houve. E há.
Um curso em especial é por demais atraente: Medicina. Há inúmeras faculdades que oferecem a oportunidade de brasileiros se formarem numa profissão que, no Brasil, ficou cada vez mais limitada a uma elite.
MUAMBA
Sem contar a importação e exportação legais, há atividades paralelas que movimentam muito dinheiro, como a “exportação” de cigarros e o contrabando em geral.
Isso explica o esvaziamento de Foz e o crescimento de Ciudad del Este?
Tudo faz parte. Mas talvez o fator mais importante seja, mesmo, a falta de mais empregos formais em Foz do Iguaçu, seja no comércio, na indústria ou no setor de serviços.
E empregos de qualidade, para atrair os jovens que se formam e, sem encontrar mercado, são obrigados a procurar outros centros urbanos, muitas vezes próximos daqui, como Cascavel, que não por acaso é uma das cidades que mais crescem no Paraná.
Sobre o tema, leia:
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