Famílias ocupam área em Foz do Iguaçu e fazem 130 terrenos para moradia

A mais recente ocupação na cidade foi batizada de Vila Resistência 2. Moradores afirmam não terem condição de pagar aluguel.

A mais recente ocupação na cidade foi batizada de Vila Resistência 2. Moradores afirmam não terem condição de pagar aluguel. Assista ao vídeo. 

Ao olhar geral, nem a sisudez de uma tarde úmida de inverno retira a beleza do lugar amplo e verde, entre casas e milharal, a algumas centenas de metros do Rio Almada, na região da Gleba Guarani. Mais de perto, é a realidade social crua. Barracos, habitações de lonas, bem pouco de água encanada e energia elétrica, nada de banheiros. Crianças brincando no barro frio de ruas e terrenos improvisados.

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O retrato é da Vila Resistência 2, nome dado à mais recente ocupação em Foz do Iguaçu, que teve início em 1º de junho. Na área de dois hectares, foram divididos 130 terrenos de tamanhos iguais, de 10 x 12 metros. A liderança afirma ter 80 casebres e 50 barracos de lona, e que algumas pessoas ainda estão levantando sua moradia conforme obtêm materiais, para então habitá-la.

Consultada, a prefeitura informou que o Instituto de Habitação de Foz do Iguaçu (Fozhabita), autarquia do município responsável pelos programas habitacionais, até o momento não fez o cadastramento das famílias “por se tratar de uma invasão que ainda está se instalando”. Abaixo, a reportagem traz o posicionamento da administração iguaçuense.

Nos 130 terrenos, são erguidos barracos e habitações de lona – Foto: Marcos Labanca

O imóvel particular fica na vizinhança da Escola Municipal Olavo Bilac, ao final da Rua Juvino de Carvalho, perto do Jardim Cedro e da Vila Guarani – também denominada Vila Resistência. Nesta semana, no 28º dia da ocupação, oficiais de Justiça notificaram os moradores a retirar-se voluntariamente do terreno em até um mês. Eles dizem não ter para onde ir e que pretendem ficar.

A decisão foi do juiz Marcos Antonio de Souza Lima, da 3ª Vara Civil de Foz do Iguaçu, atendendo ao pedido de reintegração de posse movido por Janete Pelicer de Medeiros e Jane Pelicer de Medeiros, herdeiras de José Irineu de Medeiros Neto e Maria Onira Pelicer, já falecidos, mencionados pelo magistrado como os “possuidores” da propriedade. O valor de causa nos autos é de R$ 22.895,34.

O H2FOZ ouviu integrantes da ocupação, os quais disseram que a área não cumpre sua função social. “Estava abandonada há uns 30 anos, o mato estava alto. Soubemos que há sete anos ninguém paga IPTU”, narra o mecânico Leocir Pinheiro, o Fininho, um dos porta-vozes. “Fizemos uma seleção das pessoas que comprovaram precisar de um pedaço de terra por não ter condição de pagar aluguel”, diz.

Detalhe do processo de ocupação, que teve ínicio em junho – Foto: Divulgação/Moradores

Segundo as lideranças, a ocupação começou com três famílias e foi recebendo outras, a maioria dos bairros próximos. “Das 130 famílias, só 10% têm alguém empregado, as demais vivem de bico [trabalho eventual e/ou precário]”, aponta Leocir. “O que mais tem são pessoas que ficaram desempregadas pela pandemia e que precisaram escolher entre comer ou pagar aluguel”, relata.

De acordo com Fininho, muitas famílias estão passando dificuldades, até mesmo para a alimentação. “O único apoio que recebemos até agora foi do projeto com sopão e banho”, conta. “Nós não vamos sair daqui. Queremos que a prefeitura faça a sua parte e trabalhe para nos ajudar. Nossa ideia é que a área seja regularizada. Até podemos pagar um valor justo para a gente viver em paz”, conclui.

Alguns moradores reunidos após recebimento de notificação da Justiça – Foto: Marcos Labanca

Reintegração de posse

O H2FOZ entrou em contato com o advogado da parte que pede a reintegração da área, o qual não foi autorizado por sua cliente a responder às perguntas. A reportagem apurou, entretanto, que entre os argumentos usados na defesa da posse está o de que o terreno teria servido de residência da falecida mãe da postulante da reintegração e que, após a sua morte, o imóvel vinha sendo objeto de partilha.

Posicionamento da prefeitura

Devido às condições precárias da ocupação, e porque muitos moradores afirmam ter dificuldades com alimentação, a reportagem perguntou à prefeitura, na terça-feira, 29, quais ações assistenciais estão sendo realizadas. Por meio da assessoria, a gestão relatou que integrantes do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) foram ao local nessa quarta-feira, 30.

“Muitas famílias não estavam em casa, mas foi levantado que muitos moradores da ocupação possuem cadastro no CadÚnico e já retiraram a cesta básica mediante agendamento”, informou a prefeitura. “Também não apresentaram outras demandas, como cobertores, durante a visita”, completou a nota.

Integrantes da ocupação relatam ter dificuldades com alimentação – Foto: Marcos Labanca

Segundo a administração municipal, os profissionais do CRAS vão intensificar o cadastramento no CadÚnico entre as famílias que residem na área e farão o levantamento acerca de outras necessidades. Quanto ao número de pessoas na ocupação, a prefeitura respondeu ainda não ter a relação.

“Por se tratar de uma invasão que ainda está se instalando, não existe até o momento projeto de intervenção em relação à habitação/reurbanização ou regularização fundiária”, relatou. “Ainda não foi realizado o cadastramento das famílias pelo Fozhabita”, declarou a prefeitura.

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