“Dar esmola não ajuda. Não dê esmola. Dê oportunidade”, diz campanha em Foz do Iguaçu

Esta é a mensagem de placas fixadas pela prefeitura nas principais avenidas de Foz do Iguaçu.

RESUMO DA MATÉRIA
1) Prefeitura coloca placas na região central de Foz do Iguaçu.
2) “Não dar esmola é ampliar a possibilidade das pessoas terem outras oportunidades”, secretário municipal de Assistência Social, Elias de Souza Oliveira.
3) “A população de rua tem fome, tem sede”, Júlio Lancelotti (SP)


Pelo menos dez placas com a mensagem “Não dê esmola. Dê oportunidade” começaram a ser fixadas nas principais avenidas e ruas da região central de Foz do Iguaçu. A medida contrasta com o aumento visível de pessoas pedindo doações nas vias públicas nos últimos meses.

A colocação das placas, iniciada nesta quarta-feira (6), é parte da “campanha socioeducativa ‘Dar esmolas não ajuda’ no município, visando desestimular a prática de dar esmolas, promovendo a conscientização da população sobre malefícios ocasionados por essa prática”.

O trecho em destaque está no artigo 1º da Lei Municipal 4.770, de 27 de agosto de 2019, quando entrou em vigor. O projeto de lei é de autoria da ex-vereadora Inês Weizemann (PSD) e foi aprovado pela maioria do Legislativo em 8 de agosto de 2019.

Conforme a lei, a prefeitura implantará e promoverá a campanha, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social, que deverá repassar orientações direcionadas à população sobre esse tema, via panfletagem e palestras em escolas e empresas.

São objetivos da campanha: “impedir a exploração do trabalho infantil em vias públicas; reduzir a evasão infantil escolar; sensibilizar que a esmola não garante a cidadania; e divulgar as formas de promoção e acesso aos serviços, programas, projetos e benefícios da política de assistência social”.

Placas foram fixadas em esquinas das principais avenidas da cidade, como na JK – Foto Marcos Labanca

Localização das placas (cruzamentos)
Avenida das Cataratas x Avenida Iguaçu
Avenida República Argentina x Avenida JK
Avenida JK x Terminal de Transporte Urbano
Avenida JK x Avenida Carlos Gomes
Avenida Beira-Rio x Avenida Carlos Gomes
Avenida Paraná x Avenida Costa e Silva

“Não dar esmola é ampliar a possibilidade das pessoas terem outras oportunidades”

Procurado pelo H2FOZ, o secretário municipal de Assistência Social, Elias de Souza Oliveira, argumentou que a campanha é socioeducativa com o objetivo de desestimular a prática e promover a conscientização da população iguaçuense e turistas. Veja abaixo os principais trechos da declaração ou clique aqui para ouvir na íntegra.

“Essa é uma emenda parlamentar impositiva aprovada pela vereadora Inês Weizemann, que está sendo executada agora. A gente concorda com a colocação das placas. De fato, nós temos feito a defesa há muito tempo de que as pessoas não deem esmola, seja pra mulheres, mulheres com crianças, pra população em situação de rua?”

“A gente sempre diz pra que ligue no serviço de abordagem social, no 0800-0451407, que o pessoal da abordagem vai lá, faz o atendimento, faz a intervenção com essas pessoas, procura encaminhar pro Centro Pop. Se tiver necessidade de encaminhar para as casas de passagem.”

“Quando são mulheres paraguaias com criança, a gente tem aquele trabalho de encaminhar pro Consulado do Paraguai, que cadastra essas mulheres e essas crianças, encaminha pro Codemi, que é o Conselho Tutelar do Paraguai, fazer o repatriamento seguro e protegido.”

“A nossa defesa é de fato, de defender, fazer campanha para não se dar esmola. Se dá muito, qualquer centavo que você dá, seja um centavo, seja dez centavos, um real, contribui para essas pessoas, muitas vezes, criarem a expectativa de que ficar na rua, estar na rua é um lugar seguro. Isso é uma falsa expectativa.”

“A outra coisa é que por trás, muitas vezes, de mulheres, de crianças e até de homens pedindo esmolas em semáforos, nós temos a suspeita de que podem estar organizadas. Podem, não posso afirmar, mas temos essas suspeitas. Quadrilhas que exploram o trabalho infantil, que exploram essas mulheres, que essas mulheres encontram, se encontram vítimas de violência psicológica, pra estar lá com seus filhos.”

“Não dar esmola é ampliar a possibilidade dessas pessoas terem outras oportunidades. Há outros mecanismos de serviços estruturados no município que são capazes de atender e ofertar outros encaminhamentos mais dignos, que, de fato, constroem oportunidade pra vida dessas pessoas. A ideia é esta: contribua pra possibilidade de construção de uma outra vida, de uma outra organização de vida pra essas pessoas.”

“A população de rua tem fome, tem sede”

Avenida Duque de Caxias com Avenida JK – Foto Marcos Labanca

A campanha retoma um debate antigo da sociedade: dar ou não esmola? A colocação de placas com a mensagem em letras garrafais em pontos estratégicos da região central contrasta com o aumento de pessoas mendigando nas ruas e avenidas da cidade – a maioria adulta, entre elas mães com seus filhos.

Coordenador da Pastoral Povo da Rua, em São Paulo (SP), há mais de três décadas, o padre Júlio Lancelotti participou do “Papo de Segunda”, programa da GNT, em julho de 2020, com o tema: “Invisíveis: qual é a verdadeira situação dos moradores de rua?”. Em determinado momento, ele respondeu à questão sobre a doação aos mais necessitados.

“Eu acredito que ninguém tem que tutelar a tua consciência. O que você tem é que dar a você mesmo no relacionamento. Muitas vezes eu encontro com os irmãos, eu não dirijo, eu não tenho carro, mas alguém tá me levando. A gente encontra. Você dá um olhar, dá um sorriso. Fale com a pessoa, não mostre medo, não mostre angústia. É importante nem demonizar, nem idealizar. Eles são seres humanos”, afirmou o religioso.

Em outro trecho, o padre disse: “Tem mais perigo no Congresso Nacional do que numa esquina, viu. Ah, eu não dou porque ele vai usar droga. Só eles que compram droga. São só eles os usuários de drogas? Isso já é um preconceito e uma distorção. Eles estão nas ruas porque são seres humanos. A população de rua também ama, também tem sonhos, tem medos, tem angústias, tem revoltas, tem fome, tem sede”.

Clique aqui para assistir à entrevista.

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