Dados por si só não explicam realidades, carecendo a sua conversão em informação para posterior exame. Analista do cenário socioeconômico de Foz do Iguaçu nas últimas décadas, o matemático e estatístico Luiz Carlos Kossar desmiudou os números iniciais do Censo 2022 do IBGE.
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O que extraiu da contagem, argumenta, confirma a estagnação da economia de Foz do Iguaçu em relação a outras cidades vizinhas da região. O professor bate nessa tecla há um bom número de anos e afirma que falta gestão pública eficiente para propor e executar um projeto de cidade.
A partir do censo, Kossar comparou o crescimento do número de iguaçuenses com as populações de Cascavel, Toledo e Medianeira, as três com expansão acima da média da localidade fronteiriça. A ideia é avaliar e compreender a dinâmica das economias, cada qual com sua realidade.
Em 12 anos, os habitantes de Foz do Iguaçu foram de 256.088 (2010) para 285.415 pessoas, 29.327 moradores a mais, o que representa 11,45% de aumento. Esse patamar coloca o município na 92.ª posição do ranking de crescimento das localidades paranaenses, atrás das vizinhas.
As três cidades comparadas tiveram o seguinte desempenho:
- Cascavel
População em 2010: 286.205
População em 2022: 348.051
Acréscimo: 61.846 moradores (21,61%)
Ranking de crescimento no período: 43.º
- Toledo
População em 2010: 119.313
População em 2022: 150.470
Acréscimo: 31.157 moradores (26,11%)
Ranking de crescimento no período: 25.º
- Medianeira
População em 2010: 41.817
População em 2022: 54.369
Acréscimo: 12.552 moradores (30,02%)
Ranking de crescimento no período: 14.º
Com efeito, o matemático crava a análise no que compreende ser o problema central iguaçuense. “Meus estudos, há anos, vêm alertando para uma estagnação econômica de Foz do Iguaçu. O Censo 2022 mostra que não estávamos errados”, enfatiza Luiz Carlos Kossar.
Censo e problema de gestão
Municípios vizinhos cresceram e geraram riquezas, ao passo que Foz do Iguaçu viu sua miséria aumentar, prossegue. “A cidade sofre pela falta de planejamento dos gestores que a comandaram ao longo dos últimos 20 anos”, enfatiza.
Ele recorre a outro dado que, ao seu exame, “colabora com o baixo crescimento populacional”, que é o número de residências de Foz do Iguaçu. “Conforme o Ipardes [instituto de pesquisas do Paraná], a cidade ficou no 296.º lugar [crescimento do número de habitações] entre os 399 municípios do estado, no intervalo de 2010 a 2021”, pontua Kossar.
Assim, ao reforçar a necessidade de diversificação da matriz econômica de Foz do Iguaçu, o estudioso inclui nas suas conclusões que:
- Cascavel, Toledo e Medianeira se posicionaram melhor que Foz no ranking por conta de suas matrizes econômicas.
- Crescimento da população iguaçuense não pode ser visto de forma dissociada do aumento da pobreza: 21 mil famílias recebem Bolsa Família, programa social do governo federal; mais de 60 mil pessoas vivem em habitações precárias; e o trabalho informal é alto.
Crescimento significativo, diz prefeitura
Ao obter os dados do Censo 2022, o prefeito Chico Brasileiro chamou de “significativo” o crescimento da cidade, mas que os dados não refletiriam “os números estimados na própria região”. Para ele, o IBGE teve dificuldade para recensear estudantes e as pessoas que estudam e trabalham no Paraguai, supondo que a cidade tem mais de 300 mil moradores.
“O censo foi feito durante a pandemia, com recursos escassos, e em vez de levantar os dados em três meses demorou mais de dez meses”, declarou o prefeito. Publicamente, Chico Brasileiro explanou que pretende questionar oficialmente o IBGE sobre a contagem domiciliar.
Sem muitas alternativa de emprego além de turismo, que tem média salarial baixa, e sem indústrias ou agronegócio dificilmente alguém que deseja ganhar um bom salário irá querer ficar aqui.
Melhor ir mesmo para Medianeira, Cascavel ou Toledo.