Arcaico, transporte coletivo faz morador optar por bicicleta e moto

Pesquisa feita pela Unila mostra insatisfação generalizada e necessidade de criação de um Instituto de Planejamento Urbano em Foz do Iguaçu

Um estudo de campo realizado pelo Grupo de Pesquisa em Mobilidade e Matriz Energética da Universidade Federal da Integração Latino-Americana – UNILA revelou que o sistema de transporte coletivo de Foz do Iguaçu tem três vezes mais reclamações do que elogios. Ainda conforme a pesquisa, muitas pessoas abrem mão dos coletivos para usar motos e bicicletas.

O levantamento foi feito por meio de questionários físicos e virtuais entre fevereiro e abril deste ano em 4 diferentes regiões da cidade e abarcou usuários e não usuários do transporte coletivo.

A pesquisa, cujo objetivo era fazer um raio-x do transporte coletivo urbano, apontou importantes facetas do serviço muitas vezes ignoradas pelo poder público:

.O principal problema apontado pelos usuários foi atraso nos horários, ônibus cheios e falta de ar condicionado em toda a frota.

. O sistema de transporte coletivo tem sido substituído por outras modalidades como motocicletas e carros, fato que pode contribuir para a tendência de violência no trânsito local com acidentes e mortes.

.A maioria dos usuários do transporte coletivo é formada por mulheres com renda de até 3 salários mínimos e na faixa etária de 15 a 35 anos.

. Entre os não-usuários, a maioria é do gênero masculino, com renda de até 3 salários-mínimos e que utilizam principalmente carros e motocicletas como meio de transporte gastando até, a grande maioria, R$ 250,00 com despesas mensais para se locomover.

. A maior parte dos pontos de ônibus apresenta desconforto térmico, não tem proteção de chuva e alguns estão cobertos pelo mato. Também não há correspondência ergonômica entre calçadas, vias asfálticas, pontos e os coletivos.

Ponto de ônibus no Parque Imperatriz. Foto: Divulgação Unila

.A quantidade per capita de veículos bem como emissões de CO2 em Foz do Iguaçu cresceu mais se comparado a Cascavel, Curitiba e Londrina. A conclusão foi feita a partir de uma análise comparativa do histórico relativo à quantidade de carros, motocicletas, consumo de combustível e emissão de CO2.  

.O transporte na cidade não é atrativo, vem perdendo passageiros e não cumpre funções sociais complementares importante, tais como, auxiliar na redução de acidentes e óbitos no trânsito.

Coordenador do grupo de pesquisa, o engenheiro e professor Ricardo Hartmann diz que faltam estudos aprofundados sobre o transporte coletivo da cidade, cujo sistema permanece o mesmo há mais de duas décadas, sem evolução. “Não há uma cultura para tratar da mobilidade urbana”, frisa.

Segundo Hartmann, muitas das reclamações dos usuários não chegam a Instituto de Transporte e Trânsito de Foz do Iguaçu – Foztrans e não são resolvidas pelas empresas.

A situação da cidade torna-se ainda mais grave porque além do trânsito local, há veículos do Paraguai e da Argentina circulando, o que leva a necessidade de se ter um setor de inteligência para tratar desse tipo de questão na cidade.

Por isso, uma das sugestões do grupo de pesquisa é a criação de um Instituto de Planejamento Urbano. “O conceito de transporte coletivo começa quando a pessoa sai de casa e envolve a calçada e o ponto de ônibus”, ressalta.

Pontos de ônibus

Outra preocupação da pesquisa foi mapear o estado dos pontos de ônibus. A constatação foi a de que a maior parte não conforto térmico, alguns não apresentam proteção contra a chuva, há alagamentos de pisos, falta de cuidados com poda e jardinagem. Também foi constatada dificuldades para o embarque dos passageiros.

Com base em fotografias comuns e termográficas, foi possível notar que no ponto de ônibus próximo ao centro de recepção de visitantes do Parque Nacional do Iguaçu a temperatura do banco destinado aos usuários chegou a 44 graus, enquanto a estrutura metálica 53,7 graus, no dia 12 de fevereiro de 2024.

Imagem termográfica indica 44 graus nos assentos de ponto de ônibus do Parque Nacional. Foto: Divulgação Unila

O ponto de ônibus em frente à Paróquia São João Batista apresentou iluminação deficitária. Em um ponto do Jardim Imperatriz, o mato rodeava a estrutura.

Passageiros no ponto de ônibus da Avenida Jorge Schimmelpfeng, em frente à Igreja São João Batista. Imagem: Marcos Labanca/H2FOZ
Passageiros no ponto de ônibus da Avenida Jorge Schimmelpfeng, em frente à Igreja São João Batista. Imagem: Marcos Labanca/H2FOZ

Em relação ao Terminal de Transporte Urbano – TTU, foi constatado excesso de calor, sujeira, falta de asseio e presença de pessoas que não são usuárias do transporte.

Coleta

Os pesquisadores também obtiveram dados por meio medições de intensidade sonora feitas no TTU e em pontos de ônibus.

As coletas foram feitas in loco em diferentes horários do dia nas quatro principais regiões da cidade:  Morumbi, Porto Meira, Três Lagoas e Vila C, além do centro da cidade, Aeroporto, Parque Nacional do Iguaçu e Vila Portes. No total, foram respondidos 221 formulários físicos respondidos e 279 virtuais.

Vereadores

Diante das tamanhas falhas no sistema, o grupo de pesquisa encaminhou aos vereadores um ofício demonstrando os problemas. No documento, os pesquisadores sugerem, entre várias ações:  

Criação do Instituto de Planejamento Urbano para Foz do Iguaçu e estabelecimento de parcerias com Ciudad del Este e Puerto Iguazú.

Criação de carreiras de engenharias, arquitetura, urbanismo, geografia e áreas afins com valores estipulados por pisos salariais.

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4 Comentários
  1. Ale Diz

    O intervalo entre os ônibus é grande, mesmo durante dias se semana (mais de 35 min em algumas linhas). De noite e no fim de semana os intervalos aumentam. Domingo certos itinerários não estão disponíveis, de forma incompreensível. Linhas são mal planejadas e muitas só vão até o TTU e sequer chegam ao centro. E, claro, nada é feito porque o prefeito não quer e os vereadores não fiscalizam por conveniência política.

  2. MARCO AURÉLIO Diz

    Políticos ( vereadores, prefeitos e secretários de transporte ) não usam o transporte coletivo. Então seremos reféns dessa porcaria de transporte. Coitados dos motoristas que recebém pouco, fazem dupla função e tem que fazer itinerários apertados que mal dá tempo para tomarem um água. Coitados dos usuários que enfrentam todos os tipos de problemas.

  3. David Goes Barreto Neto Diz

    Sou de Campinas São Paulo leio sempre o h2foz.
    Aqui é ruim o transporte coletivo. O de Foz praticamente inexiste. É realmente péssimo.A moto que é uma opção que ocupa menos espaço vi várias blitz onde somente são paradas elas. O iguaçuense dirige muito melhor que aqui. As ruas e avenidas são mais amplas.Nota-se bastante a dissociação dos turistas com os moradores e a cidade..Pouco vínculo o turista estabelece com a cidade o que não é meu caso. Com boa vontade Foz melhoraria muito inclusive retendo por mais tempo o turista que observei- ficam por dois dias na cidade.

  4. Wagner Diz

    Ainda não inventaram os palavrões pra definir o que é o foztrans e essa porcaria que chamam de transporte coletivo de Foz.

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