A delegação de Foz do Iguaçu foi a maior presente na Conferência Estadual que reuniu cerca de 300 jovens para discutir políticas públicas no fim de outubro. Além de debater, pautar e deliberar, a representação iguaçuense obteve cinco delegados na etapa nacional, que será de 14 a 17 de dezembro, em Brasília (DF).
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O rapper Stênio Fornari será um dos nomes de Foz do Iguaçu na Conferência Nacional da Juventude, instância máxima de propostas e decisões na área. Arte-educador, músico e ativista do movimento hip-hop, Stênio MC é um dos idealizadores e promotores da Batalha da Pista, ao lado de DJ Smoke, ação às segundas-feiras na pista de pública de skate que acontece há sete anos.
À plenária nacional, também foram eleitos pela sociedade civil os jovens de Foz do Iguaçu Gabriel Cesar Brunório e Jovana Schmidt Farias, e dois pela representação governamental, que são Alison Zantute e Valentina Rocha Virgínio. O governo federal arcará com os custos do transporte aéreo e da hospedagem.
Para Stênio, a oportunidade será relevante para levar as pautas das juventudes iguaçuenses, que são diversas, avalia, sem que tenham a mesma condição de voz nos espaços e instâncias municipais. “Vamos levar não só o nome do movimento hip-hop, que eu faço parte, mas de todas as juventudes da cidade, que são plurais”, disse ao H2FOZ.
“Será um desafio muito grande, pois não estamos falando só de um determinado grupo ou de um segmento”, expôs. “A Conferência Municipal deixou muito aberto, para quem ainda poderia ter dúvida, de que existem diversas juventudes em Foz do Iguaçu e que todas elas precisam ser contempladas nas políticas públicas locais”, pontuou.
Para exemplificar, o rapper mencionou as juventudes preta e LGBT. “A visibilidade trans é um debate muito importante e foi uma das pautas que Foz do Iguaçu levou à estadual”, relatou Stênio. “Essa pauta foi muito bem representada pelo Zaion, um jovem trans, árabe, que apresentou as demandas recolhidas na cidade, no eixo de diversidade, e que também defenderemos na Conferência Nacional”, informou.
Inclusão e socialização
Outra pauta que Stênio Fornari pretende defender em Brasília, ao lado da delegação iguaçuense, é a implantação de políticas afirmativas para jovens que passaram pelo sistema carcerário ou socioeducativo. Esse tema é resultado de debates entre parcela do movimento hip-hop em Foz do Iguaçu e foi chancelado na etapa local das conferências, no eixo de segurança pública.
“Defendemos vagas em concursos públicos e universidades como o instrumento mais eficiente para o Estado promover a reinserção dos jovens”, defendeu. “Afinal, a grande parte da população encarcerada é jovem e preta, resultado de uma desigualdade racial e social que existe em nosso país e que reflete nas cidades”, ponderou.
Juventudes em Foz do Iguaçu
Para o militante do movimento hip-hop, Foz do Iguaçu é uma cidade diferenciada devido a ser fronteira e pela diversidade étnica, o que torna ainda mais desafiadoras as políticas públicas para a juventude. Ele entende que hoje, na cidade, o poder público, representando pela secretaria da área, não dialoga com todo o conjunto dos jovens, nem destina orçamento suficiente.
“A Secretaria da Juventude não tem a representatividade plural dos nossos jovens e, por isso, não consegue dialogar com todos e todas”, apontou. “É importante exigir que os representantes das pautas da juventude, além de ser jovens, têm que ser articulados com os jovens, com a pluralidade, não um segmento. Tem que ser de baixo para cima”, salientou Stênio Fornari.
Ao seguir a análise, o fato de não haver conselho de políticas públicas em funcionamento diz muito sobre a realidade iguaçuense – esse órgão está sendo reativado. “Sem o que a agente não consegue cobrar as pautas de forma efetiva. Foz do Iguaçu ainda tem esses espaços vagos: primeiro da ausência do conselho; depois, uma secretaria que não consegue conversar com a juventude e que não tem orçamento suficiente para trabalhar”, elencou.
Jovens negros e periféricos
Na sua avaliação, quando se fala em juventude no município, são favorecidos os segmentos religiosos católicos e evangélicos, assim como os setores organizados partidariamente ou que dão apoio a governos. “Sempre ficam de fora as juventudes preta e periférica, ou tem muita restrição ou são silenciadas”, criticou.
Ele recordou o tempo em que Foz do Iguaçu era a cidade mais perigosa para a juventude, com altos índices de assassinatos juvenis, e cobrou ação governamental abrangente. “Os números melhoraram, em termos de assassinatos de jovens. Só que ainda não chegamos onde queremos, para ter acesso pleno à saúde, educação, trabalho, cultura, esporte e lazer”, reivindicou.
Para ele, é preciso dar voz e investir em programas para que os jovens periféricos tenham vida digna e ascensão na sociedade. “Essa parcela de jovens precisa ser ouvida. O primeiro passo é o poder público saber quais são as demandas dos jovens negros e das periferias. Repito: cadê as juventudes periféricas dentro da discussão sobre as suas próprias demandas?”, questionou Stênio Fornari.
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