Para o usuário, transporte coletivo é caro e ineficiente; Viação Santa Clara afirma ter aumentado a frota em 43% e implantado melhorias. Prefeitura e Foztrans não responderam à reportagem.
Alexandre Palmar e Paulo Bogler – H2FOZ
Julho marca o quarto mês de operação do transporte coletivo de Foz do Iguaçu pela Viação Santa Clara (Visac), que assumiu o sistema em 13 março, por contrato emergencial instituído pela prefeitura. Não é só mais uma data no calendário: o período coincide com o primeiro reajuste do preço da passagem no pós-Consórcio Sorriso, anunciado inicialmente pela gestão municipal como a redenção dos problemas do serviço.
LEIA TAMBÉM: H2FOZ EDITORIAL
Prefeitura chamar aumento da passagem de ônibus de ‘desconto’ é brincar com a população
A partir desta segunda-feira, 4, entra em vigor o aumento da tarifa, que custará R$ 4,50 para quem usa cartão e R$ 5 no pagamento em dinheiro. Segundo a administração, os cofres públicos deverão arcar com essa diferenciação no valor. O “prefeito informou aos vereadores que irá enviar uma proposta de suplementação orçamentária por parte da prefeitura para subsidiar esse custo”, comunicou a Agência Municipal de Notícias.
Para pôr na balança a qualidade do serviço prestado à população e o custo da passagem, o H2FOZ reuniu a opinião dos usuários em enquete para o programa Marco Zero e enviou perguntas para a Prefeitura de Foz, ao Instituto de Transportes e Trânsito (Foztrans) e à Santa Clara. A prefeitura e a autarquia de trânsito não responderam aos questionamentos da reportagem (enviados em 13 de junho), e a assessoria da empresa de ônibus enviou informações.
Ônibus lotados, horários insuficientes – que pioram aos sábados, domingos e feriados –, linhas e rotas inadequadas, número reduzido de pontos de recarga e falta de integração para quem paga em dinheiro são alguns dos problemas relatados. No entanto, de acordo com a Viação Santa Clara, o balanço apresenta “saldo positivo” até aqui. A empresa cita, para embasar a afirmação, melhorias e ampliação da frota de veículos em 43% e do número de usuários diários.
Opinião do passageiro
Moradora do centro, Fabiana Bezerra pega ônibus diariamente para ir ao trabalho. Na sua opinião, o preço cobrado pelo bilhete não é compatível com a qualidade do serviço. Demora e lotação estão entre as suas reclamações, além da ausência de ferramentas tecnológicas para que o usuário possa acompanhar o trajeto percorrido pelos veículos, horários e outras informações relevantes.
“É assustador esse valor, visto que não foi feita nenhuma melhoria efetiva desde a alteração da empresa”, criticou em referência ao reajuste feito pela prefeitura. “É um valor abusivo para um transporte tão precário. Não tem nem pontos de recargas estratégicos e só aceitam dinheiro. Os horários são uma vergonha; as linhas e rotas, piores ainda. A gente é humilhada todo dia para ir para o trabalho e tem que esperar 40 ou 50 minutos para voltar para casa, exaustos”, expôs Fabiana.
ÁUDIO: FABIANA BEZERRA – Passageira
A bronca de Marluci Silva, da Vila Miranda, é pela lotação. Para ela, o aumento não se justifica. “Isso está errado [reajuste]. Se aumentassem a passagem e colocassem mais ônibus, tudo bem. Mas são uns ônibus velhos, lotados, todos os dias cheios. Os ônibus de manhã, de Três Lagoas, vêm superlotados, não tem nem como se mexer. Tinha que colocar pelo menos quatro ônibus nesse horário”, cobrou.
“Como todas as ações dos gestores da nossa cidade, uma tremenda falta de respeito com a população. Frota de ônibus sucateados. Tudo já voltou ao normal, menos os horários dos ônibus”, opinou Loiri Souza. Da Vila Adriana, a preocupação de Jaime Nogueira e com novos reajustes. “Tomara que não aumente de novo em 2022. Mas quem garante?”, indagou.
Já conforme Jorge Costa, o aumento para R$ 4,50 e R$ 5, no cartão e dinheiro, respectivamente, foi muito alto. Ele comparou essa medida
com as elevações no preço da passagem praticadas em outros anos. “Aumentou muito de uma vez só. Nas outras vezes, eram dez centavos por vez. Agora foi um aumento de R$ 0,90 [para pagamento em espécie]. Está errado isso. Meu salário não sobe”, reprovou.
O que diz a empresa
Balanço:
A dez dias de completar quatro meses de operação em Foz do Iguaçu, a Viação Santa Clara (Visac) defende que o serviço prestado tem um “saldo positivo”. A frota, elenca, foi ampliada em 43%, tendo iniciado com 66 coletivos – o contrato previa 60 – e hoje são 94. Entre eles, quatro articulados com ar-condicionado e capacidade para transportar de 160 a 190 pessoas.
Segundo a concessionária, mais passageiros estão utilizando o transporte coletivo. “Nesses três meses houve também um aumento na demanda de passageiros. De uma média de 31 mil/dia na segunda quinzena de março, para mais de 40 mil pessoas transportadas”, enumerou. Questionada pela reportagem, a assessoria afirmou que esse aumento de pessoas transportas não é devido às aulas presenciais.
Ônibus com ar-condicionado:
A Santa Clara diz que, dos 94 ônibus operando, 55 têm ar-condicionado. Desses, 50 são comuns; e cinco, articulados. Da frota, 66 contam com sistema de rastreamento e WI-FI, cumprindo a exigência do contrato. “Mas a empresa já trabalha para que até dia 13 100% da frota já conte com o sistema de Wi-Fi, rastreamento e entradas USB”, informou.
Tecnologia:
De acordo com a viação de ônibus, o “rastreamento já é uma realidade” em Foz do Iguaçu, e ajustes técnicos estão em andamento junto ao Foztrans. Ao H2FOZ, a empresa respondeu que o objetivo é “disponibilizar no aplicativo pelo celular que estará à disposição dos passageiros nos próximos dias”.
Cartão Cidadão:
A Visac menciona que, nos primeiros dias de operação, implantou a nova bilhetagem em Foz do Iguaçu e criou site para a compra on-line de créditos (www.visac.com.br). “Dentro do processo da Nova Bilhetagem, para a facilitar a rotina das empresas manteve os mesmos logins e senhas cadastradas, uma vez que os dados são de domínio Foztrans”, declarou.
Pontos de recarga:
Na semana que vem, comprometeu-se a Viação Santa Clara, serão abertos 20 pontos para recarga do Cartão Cidadão (vale-transporte) em todas as regiões da cidade. “Ainda este mês será disponibilizado sistema de compra digital para os usuários”, anotou a assessoria da concessionária do serviço público.
Prefeitura atribui aumento ao preço do diesel
A Prefeitura de Foz do Iguaçu havia anunciado o reajuste de 22% no preço da passagem para todos os usuários, mas voltou atrás e impôs a diferenciação do preço no cartão e em dinheiro. Para isso, deverá ampliar o subsídio à empresa, que hoje é de R$ 1,2 milhão por mês, segundo o Foztrans. O município justifica o aumento pelo encarecimento do combustível e elevação do custo da folha de pagamento dos rodoviários.
“É impossível não implementar um reajuste neste momento, apesar de ser muito desgastante para o poder público”, disse o prefeito Chico Brasileiro, por meio da Agência Municipal de Notícias. “Os custos de operação sofreram fortes impactos ao longo deste ano, especialmente devido ao óleo diesel”, completou.
O poder público justifica que, neste ano, até 18 de junho, os reajustes no preço do diesel totalizaram 56,09%. “Desde março, quando a Prefeitura assinou o contrato emergencial na operação do transporte coletivo, o diesel aumentou 48,09%”, lê-se da nota oficial da municipalidade. E complementa afirmando que os reajustes para R$ 4,50 e R$ 5 estão abaixo do aumento acumulado pelo combustível. A inflação nos últimos 12 meses, contudo, está em torno de 12%.
Comentários estão fechados.