Livro sobre chacina no Parque Nacional do Iguaçu na ditadura pode ser baixado de graça

Recuperação da memória contra o regime fardado marca atos civis neste 31 de março, dia do golpe de 1964.

Seis guerrilheiros que estavam na Argentina foram atraídos para uma emboscada no Parque Nacional do Iguaçu, no Oeste paranaense, e mortos por agentes da ditadura militar brasileira, em 1974. Foram assassinados Onofre Pinto, os irmãos Daniel e Joel José de Carvalho, Victor Carlos Ramos, Ernesto Ruggia e José Lavéchia.

Recontar esse episódio da história da região fronteiriça e localizar o local em que foram ocultados seus corpos foi uma verdadeira obstinação do jornalista iguaçuense Aluízio Palmar. O ex-combatente, pedra no sapato do mandonismo dos coronéis em Foz do Iguaçu, dedicou-se a essa causa por mais de 20 anos, ele que poderia ter sido uma das vítimas da chacina.

O resultado desse garimpo e imersão na investigação jornalística resultou no livro “Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?”, publicado originalmente pela Travessa dos Editores (2006), de Curitiba. O trabalho ganhou uma edição atualizada da Editora Alameda, de São Paulo, que pode ser baixada gratuitamente na internet, em PDF (clique aqui).

Os seis militantes entraram no Brasil para organizar ações contra o regime fardado na Região Sul do país, em uma conjuntura amplamente desfavorável. Ao revelar a movimentação derradeira do grupo, Palmar narra não só a sua participação no enfrentamento à ditadura como reconstitui uma parte consistente desse período da história brasileira.

Além do livro, o jornalista e ativista dos direitos humanos mantém o portal Documentos Revelados, um dos maiores sites e dos mais abrangentes acervos documentais no país sobre o período ditatorial, fora do âmbito governamental. São milhares de documentos digitalizados, fonte de consulta gratuita referente ao Brasil golpeado.

Recuperação da memória

O livro e o portal podem ser tomados como conteúdo para o debate sobre o golpe militar de 1964. Neste dia 31 de março, aniversário do levante dos quartéis, atos civis pedem a recuperação da memória contra o regime, que implantou o terrorismo de Estado, a censura, a tortura e o assassinato pelos meios institucionais.

“Os anos do regime foram os anos do terror. Essa narrativa está em disputa atualmente”, expõe o Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP), que promove em Foz do Iguaçu ato público neste 31 de março, denominado Dia do Nunca Mais. “É necessário revisitar e restaurar a história para manter a democracia e a liberdade vivas no Brasil”, frisa.

Restauração da história para que ela não se repita, pedem organizadores do ato em Foz do Iguaçu – foto: Divulgação

No informativo entregue à comunidade, a entidade afirma ser necessário cada vez mais ler, ver e ouvir sobre o que considera ser o “capítulo mais terrível e sangrento da nossa história recente”. O CDHMP questiona, ainda, narrativas que tentam negar ou distorcer os anos de chumbo.

“O golpe civil-militar serviu ao propósito da implantação de uma ditadura que promoveu intensa repressão contra os trabalhadores e movimentos populares organizados”, escreve. “Com isso, ampliou o fosso de desigualdade e miséria no país, além de aumentar o endividamento do Estado, deixando marcas profundas na estrutura social e econômica do Brasil”, avalia o CDHMP.

Nesta semana, a Comissão de Anistia, recomposta em janeiro deste ano, com 16 membros, realizou a primeira sessão pública de 2023. A sessão fez parte da Semana do Nunca Mais – Memória Restaurada, Democracia Viva, voltada para contextualizar o golpe de 1964 contra investidas que fazem alusão à tortura e a torturadores.

A comissão pretende revisar mais de quatro mil pedidos negados nos últimos anos e reparar a revitimização de perseguidos políticos, no período ditatorial (1964 a 1985). Na primeira reunião, foram analisadas provas de perseguição política na revisão de quatro processos de anistia e reparação de danos.

Na resistência

Em reconhecimento por sua atuação pela democracia e os direitos humanos e em favor da democracia, o jornalista, escritor e militante social Aluízio Palmar recebeu a Medalha Chico Mendes de Resistência, homenagem de abrangência nacional, uma das mais distintas nesse campo. Ele é uma das vítimas do autoritarismo que tomou o país por 21 anos, de 1964 a 1985.

Integrante do movimento estudantil, que atuava contra o golpe, Palmar chegou a Foz do Iguaçu em 1968 para fortalecer a resistência na região da fronteira. Iniciou a militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB), depois dissidência do Rio de Janeiro e MR-8, em Niterói (RJ). No exílio, ingressou na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

O militante social integrou a resistência à ditadura civil-militar – foto: Marcos Labanca

Foi preso em Cascavel no final de 1969, levado o Presídio do Ahú, em Curitiba (PR), onde ficou com integrantes de vários grupos resistentes. Foi transferido para o Presídio da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e, em 1970, Aluízio Palmar estava entre os presos políticos que ganharam a liberdade pela troca do embaixador suíço, exilando-se no Chile.

Após quase uma década na clandestinidade, voltou para o Brasil no final dos anos 1970. Em Foz do Iguaçu, foi um dos fundadores e editores do jornal Nosso Tempo, um dos principais periódicos contra a ditadura militar do Paraná. Na cidade, Palmar se tornou um inimigo público dos interventores instalados na prefeitura pelo regime.


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1 comentário
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