Puerto Iguazú inicia movimento “15S”, pra reabrir fronteira com Foz

Serão ouvidos pelo governo, a 1.500 km de distância? Talvez não. Mas há um trunfo…

Denise Paro e Cláudio Dalla Benetta

Centenas de trabalhadores do setor de transporte e comerciantes da região central de Puerto Iguazú, vizinha a Foz do Iguaçu, bloqueiam desde as 9h desta quarta-feira, 15, a entrada da cidade, em frente ao Casino Iguazú, para pressionar o governo central a reabrir a fronteira.

O movimento ganhou o nome de “15S”, para significar este dia, 15 de setembro, data em que havia sido aventada a hipótese de que hoje reabriria a fronteira com Foz do Iguaçu.

Há, no entanto, um reforço para o que querem os manifestantes: o Chile anunciou neste mesmo dia 15 a reabertura das fronteiras com todos os países.

O MOVIMENTO “15S”

Manifestantes dizem que protesto é por tempo indeterminado. Foto Marcos Labanca

Os manifestantes montaram uma barraca e dificultam o trânsito de caminhões em direção ao Brasil. Participam do protesto o prefeito de Puerto Iguazú. Claudio Filippa, e vereadores.

A fronteira foi fechada há 1 ano e 6 meses como uma das medidas para conter a proliferação da covid-19, e desde então sufoca a atividade turística e comercial de Puerto Iguazú.

O empresário Pablo Damico, do setor gastronômico, diz que a ideia é manter o protesto até que o governo nacional se sensibilize para falar do assunto.

Em um comunicado, os manifestantes criticam o governo por não cumprir a promessa de reabrir a fronteira, feita pelo presidente Alberto Fernández em 24 de agosto ao governador de Misiones, Oscar Herrera Ahuad, como o próprio governador comentou com a imprensa.

Além do protesto, um abaixo-assinado on line, encabeçado pelo setor turístico, também tramita nas redes a fim de chamar atenção do governo. Até esta quarta-feira pela manhã, mais de 32 mil pessoas haviam assinado o documento.

“INSUSTENTÁVEL”

Promessa não cumprida do governo nacional irritou os moradores de Puerto Iguazú. Foto Marcos Labanca

O texto de divulgação do abaixo-assinado traz a queixa de que não é possível uma atividade se sustentar por tanto tempo com a fronteira fechada.

O setor passa, segundo o comunicado, por uma situação histórica insustentável, colocando em risco pelo menos 3.500 postos de trabalho e famílias de várias províncias argentinas.

O gerente geral da empresa Sol Iguazú Turismo, Juan Jose Castillo, diz que a situação é muito crítica.

“O turismo internacional é o grande criador de recursos e divisas para a Argentina e estamos muito prejudicados”.

Segundo Castillo, hoje as empresas de turismo estão trabalhando com 10% a 15% da movimentação habitual e não conseguem cobrir os custos básicos de salários e impostos.

Castillo afirma ainda que o setor está também sendo prejudicado com a diferença cambial da moeda argentina em relação a outros países. Para ele, Puerto Iguazú é hoje como uma cidade paralisada.

A REIVINDICAÇÃO

Puerto Iguazú reivindica do governo um plano de ação para reabrir a fronteira e que seja fixada uma data para isso acontecer.

O setor de turismo e comércio pede urgente uma reabertura programada com protocolos. Para o empresário Juan José Castillo, não há mais desculpas para deixar de fixar uma data para reabertura da fronteira. “Sem uma data é difícil fazer uma programação”, afirmou.

O REFORÇO VEM DE FORA

A 1.500 km de distância, onde fica a sede do governo, dificilmente o governo ouvirá ou até saberá das manifestações de um relativamente pequeno grupo de Puerto Iguazú.

Mesmo que a reivindicação seja considerada justa, o governo nacional tem toda uma política externa a considerar e, também, a questão sanitária, além da econômica.

Basta lembrar que, até agora, um único jornal de alcance nacional, o Clarín, chegou a falar que o governo voltou atrás na intenção de reabrir as fronteiras.

A manifestação de hoje está sendo divulgada no máximo por jornais e portais da província de Misiones, mas nenhuma linha saiu nos publicados em Buenos Aires.

Mas é aqui que entra uma novidade importante: neste mesmo “15S” o governo do Chile anunciou que, a partir de 1º de outubro, abrirá as fronteiras a todos os estrangeiros que cumpram com alguns requisitos, como seguro de viagem, um plano de mobilidade interna e a validação das vacinas contra covid-19.

A notícia saiu com destaque nas páginas on line dos jornais La Nación e Clarín. Qualquer argentino poderá viajar ao Chile, assim como turistas de outros países, desde que tenha completado o esquema de vacinação.

UM POUCO MAIS LONGE

Para ir de Buenos Aires a Santiago do Chile, é preciso percorrer 1.136 quilômetros de avião.

De Buenos Aires a Puerto Iguazú, a distância é um pouco menor: 1.050 quilômetros, também de avião.

Mas o governo argentino entenderá melhor o recado silencioso do Chile do que os gritos de reivindicação dos argentinos aqui da fronteira.

E é bem possível que a definição chilena apresse a decisão de Buenos Aires sobre as fronteiras argentinas, o que deve incluir a de Puerto Iguazú com Foz do Iguaçu.

VEJA MAIS FOTOS DA MANIFESTAÇÃO, ENVIADAS POR UM LEITOR DO H2FOZ

Os comerciantes da Feirinha, antes, muito procurada por brasileiros, se sentem os ainda mais prejudicados.
Recado ao governo, em Buenos Aires: olhar para o pessoal da fronteira.
A reivindicação é clara: moradores querem trabalhar!
Mobilização aumentou com o correr das horas.

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