Há no caminho para essa reabertura a covid-19 e, ainda, as eleições parlamentares de novembro.
Depois de tanta desinformação, a expectativa é que a reabertura da Argentina ao turismo, inclusive na fronteira entree Puerto Iguazú e Foz do Iguaçu, deve ocorrer no final do ano.
Mas pode ser apenas “boato”, porque nunca há nada de oficial. O governo argentino se fecha em copas quando o assunto é fronteira e turismo.
Por enquanto, só se estuda mesmo a permissão de ingresso dos próprios argentinos, que ficaram espalhados por vários países, principalmente Estados Unidos, quando a Argentina reduziu para 1.800 pessoas por dia o acesso ao país. E apenas por avião.
Os argentinos e estrangeiros com residência fixa poderão voltar à Argentina por meio de “corredores seguros”, como o que já existia no aeroporto de Ezeiza. O aeroporto de Mendoza e a fronteira terrestre desta província com o Chile também viraram corredores seguros.
O governo teme analisar mais a fundo a reabertura de fronteiras a estrangeiros, como já acontece em vários países. Quais são os motivos para esse temor?
COVID-19
Há mais de uma explicação, mas a principal, oficialmente, é o medo de que o coronavírus chegue em uma nova onda, ainda mais contagiosa.
Há de fato boas razões. Nos últimos sete dias, a Argentina tornou-se o país da América do Sul com mais mortes por covid-19, proporcionalmente à população.
O índice ficou em 21 mortes por milhão de habitantes, mais que no Paraguai (16 por milhão) e no Brasil (15 por milhão.
E isso que a Argentina é um dos países com mais restrições e controles no combate à pandemia.
Em casos, nestes mesmos últimos sete dias, a Argentina teve 534 por milhão de habitantes, um pouco menos que o Brasil (578 por milhão). Morre-se mais de covid-19, portanto, no país vizinho.
Entre os 208 países pesquisados pelo Worldmeters, a situação da Argentina, em número de casos na última semana, é bem razoável (109º lugar). O Brasil está em 107º.
Mas, em óbitos por milhão de habitantes, a Argentina está em 45º lugar e o Brasil em 54º. Não é uma situação desesperadora, já que os Estados Unidos, com muita vacinação, está em 39º, e Israel, ainda mais imunizado (teoricamente), está em 47º.
Mas o governo argentino não quer arriscar. Desde o início foi assim. Abrir fronteiras, no entender das autoridades sanitárias do país, significa se arriscar a que entrem na Argentina novas variantes do vírus.
ELEIÇÕES
Porém, o vírus não explica tudo. A abertura de fronteiras é controversa, no país. Os que dependem do turismo, dos visitantes, da movimentação nos aeroportos e rodoviárias, são logicamente a favor.
Mas talvez a maioria seja contra. Ninguém pesquisou a sério o que pensam os argentinos sobre isso. O que se sabe é que, quanto mais longe da fronteira terrestre, menor é o interesse no assunto pra quem mora na capital ou em províncias sem fronteiras externas.
Pode ser que esta indecisão do governo argentino tenha a ver com as eleições parlamentares de 14 de novembro.
É quando se saberá se o governo continuará com apoio majoritário ou terá que enfrentar uma oposição mais forte.
PRIMÁRIAS NO DOMINGO
Neste domingo, dia 12, haverá as chamadas eleições primárias na Argentina, quando partidos e candidatos a candidatos se submetem ao voto para saber se terão direito a participar da disputa no dia 14 de novembro.
Para entrar na briga, o partido terá que conseguir nas primárias pelo menos 1,5% dos votos válidos. Também pelo voto será definida a lista de candidatos de cada partido.
A população está “apática” em relação às primárias. Mas, quando for pra valer, isto é, quando tiver que escolher um dos dois “modelos antagônicos” na política argentina, certamente haverá uma afluência muito grande às cabines de votação, dizem os especialistas.
Mesmo porque, assim como no Brasil, o voto é obrigatório para quem tem entre 18 e 70 anos. Quam não vota tem que se justificar, para não sofrer multa.
Um dos “modelos antagônicos” de como conduzir o país é formado pelo grupo Frente de Todos, que reúne os partidos favoráveis ao presidente Alberto Fernández e à vice Cristina Kirschner.
Do outro lado, está o grupo Juntos por el Cambio, de partidos de oposição, que têm como um dos principais nomes o do ex-presidente Mauricio Macri.
Arriscar com abertura ao turismo, antes de se ter o resultado de 14 de novembro, parece muito complicado para o grupo no poder.
ECONOMIA
Um terceiro ponto é que, quando se falou em abrir fronteiras, no Chile e no Uruguai houve muitas queixas, principalmente porque a moeda argentina está desvalorizada e, com isso, os preços dos produtos são mais atraentes para chilenos e uruguaios. Haveria uma “invasão” de turistas.
De outro lado, a província de Misiones, onde fica Puerto Iguazú, é contra reabrir a fronteira com o Paraguai, pelo mesmo motivo: os preços atraentes no país vizinho provocariam uma fuga de recursos.
AS DESCULPAS
Quando alguém do governo é indagado, usa apenas o argumento do risco de aumentar a proliferação do coronavírus.
O secretário de Qualidade de Saúde da Nação, Arnaldo Medina, disse em Puerto Iguazú, esta semana, que a falta de definição sobre a reabertura da Ponte Tancredo Neves se justifica pelo avanço da variante Delta do coronavírus, conforme noticiou o portal El Territorio.
Nos corredores seguros, por onde entrarão os argentinos retidos em vários países, foi adotado um conjunto de ações “que definitivamente poderão deter o ingresso da variante Delta”, disse Medina.
Para ele, o fator mais importante para evitar a circulação de outras variantes do vírus é a vacinação. Mas, enquanto a imunidade completa não chega, não dá pra arriscar.
El Territorio diz que fontes do governo nacional estimam que, entre o final de outubro e dezembro, haverá avanços na abertura ao turismo internacional.
REVÉS
É claro que a indefinição deixa o setor turístico e comercial de Puerto Iguazú totalmente sem saber o que fazer.
A informação de que não se pensa por ora na abertura da Ponte Tancredo Neves “caiu como um baldaço de água fria”, disse a El Territorio o presidente da Câmara de Comércio de Iguazú, Joaquín Barreto
“Estamos preocupados e não esperávamos este revés. Tínhamos entendido que haveria uma prova-piloto, mas a Nação pegou pesado com o pedido de Misiones”, afirmou Barreto. E o pedido era justamente para se criar um corredor turístico entre Puerto Iguaçu e Foz, com protocolos sanitários a serem obedecidos.
“A notícia caiu muito mal”, disse o empresário Mariano Rodas, do setor gastronômico. “Principalmente porque teremos que dizer às pessoas a quem prometemos emprego que ainda não começaremos a trabalhar.”
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